POR FAHYA KURY CASSINS
Recentemente uma notícia causou furor na Penha, cidade litorânea próxima de Joinville. A causa foi a ameaça do parque Beto Carrero sair da cidade porque, depois de vinte anos, começou a pagar imposto para a prefeitura. Quem conheceu o entorno do parque e a cidade durante esses vinte anos sabe a que nível a dependência chegou. Antes conhecida pela pesca artesanal e pelas belas praias, algumas ainda bem preservadas e selvagens, destino certo de muitos veranistas, a cidade criou-se em volta do parque. A pesca foi abandonada, trocaram o anzol e as redes por pousadas feitas nas suas próprias casas reformadas, jovens recrutados no emprego fácil e não duradouro, e chegaram os home clubs.
Sabemos qual o impacto que um grande empreendimento causa numa cidade. Os empresários escolhem a dedo seus destinos, diante de prefeitos prostrados de joelhos e língua de fora. A promessa de “geração de emprego” e o destaque da cidade em índices econômicos faz com que lhes escancarem as portas. Preocupam-se muito com o nome, a propaganda, as promessas – e em nada com a qualidade e o retorno que um empreendimento desses deve trazer para a sociedade.
Quando a única coisa que um grande empreendimento proporciona para uma cidade é “geração de empregos” de mão de obra barata e descartável, há que se duvidar deles. O exemplo do Beto Carrero é um, mas quantos vivem décadas numa cidade sem pagar um mísero imposto que seja usado em benefício dos cidadãos? São necessárias muitas ações que façam com que um empreendimento, muitas vezes altamente poluente, que gera movimento acima do normal para a região, que aumenta produção de esgoto e desperdício de água, por exemplo, desses seja, de fato, atraente.
Em Joinville temos muitas fábricas que vieram com os benefícios de sempre, assim como alguns outros empreendimentos. Aquela rede de lojas de departamento, que tem um dono megalomaníaco, é um exemplo. Para qualquer um que use as ruas do Boa Vista no entorno da Tupy sabe do que estou falando, pois o tráfego pesado de caminhões mantém as vias imprestáveis – além do caos no trânsito. Moradores do entorno não conseguem conviver com a poeira. Já sentiram o cheiro em volta da Lepper? E a via de acesso que leva à Embraco? Abandonada, mal feita, sem acostamento onde os caminhões possam parar corretamente para aguardar carregamento. Tudo feito de qualquer jeito, nem parece o maior PIB de Santa Catarina, nem parece que são das maiores empresas da América Latina.
São negócios que oferecem subempregos, sem nenhuma formação de qualidade, muitas vezes em más condições, que empregam por poucos meses e tem alta rotatividade, sem contribuir com a qualificação da mão de obra nem com a qualidade de vida das pessoas. Enquanto as empresas não pagam impostos, poluem o ar, transtornam o trânsito, recebem incentivos e são os que levam os louros. Nem mesmo o comércio, pequeno e médio, recebe tantos incentivos e hoje temos o Centro da cidade refém de uma rede: a ALUGA, pois é a única placa que se vê por ali.
Lembro de uma conhecida que ficou gripada no inverno, não deixou de trabalhar nenhum dia, apesar do atestado. Porque a empresa onde ela trabalha (carregando portas) não aceita atestado de “gripe”. Ou seja, também ignoram a lei. Nos dias de calor, a tal loja de departamento já registrou vários desmaios de funcionários e clientes – porque economizam no ar-condicionado. O asfalto das Albano Schmidt e Helmuth Fallgatter é uma vergonha que não é só culpa da falta de manutenção (famosa) da prefeitura.
Então, fica a pergunta no ar: qual é mesmo a contribuição que uma empresa dessas traz para a sociedade e para os cidadãos? A Penha, por exemplo, hoje tem praias sujas, água poluída, um boom de construções irregulares, perseguição e falta de apoio aos pescadores e empresas de pescados, mão de obra desqualificada, falta de investimento em educação. E uma empresa do tamanho e fama do parque reclama de pagar 5% de imposto sobre o ingresso. Se está “ruim” pra eles…
* Segue o link da reportagem que causou furor em Penha (os comentários dos leitores no Facebook é enriquecedor): Parque Beto Carrero pode ir embora
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