quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Nem os mortos escapam do descaso joinvilense



POR FAHYA KURY CASSINS
E lá estamos nós em mais um feriadão prolongado – para os que podem – ou ao menos um feriado que dá fôlego à semana. Para muitos a data é importante para lembrar os seus falecidos, os cemitérios se enchem nas semanas anteriores à data para a tradicional limpeza dos túmulos e hoje é hora de orações e flores. Como há, também, aqueles que são indiferentes ou não seguem nenhum desses costumes.

Os cemitérios são lugares de memória e afeto. São espaços onde as famílias deixam os seus entes para descansar em paz. Mas, infelizmente, é mais um espaço na nossa cidade que sofre o total abandono, o qual reiteradas vezes mostramos aqui, por parte do poder público.

Eu lembro de como eram os dias de finados na nossa cidade, antes dela tornar-se precária e sem a mínima organização. Os cemitérios tinham horários e dias de limpeza, constantemente faltava água pela quantidade de gente limpando (quando ainda a maioria que limpava era da família e não alguém pago para isso), enquanto os funcionários davam manutenção ao local. No dia nem todos podiam entrar de carro e tudo em volta tinha um esquema especial, isso quando eram bem sinalizados, limpos e bem cuidados.

Nos últimos anos não temos mais visto funcionários, o abandono é completo, os cemitérios são terra de ninguém onde ocorrem roubos, assaltos, túmulos são rotineiramente saqueados, há até casos de suicídios e mortes em situações mal explicadas, os pedreiros deixam os restos das obras de qualquer jeito. São tantos os problemas que temos uma certeza: é Joinville.

Ano passado o Cemitério Municipal teve uma mudança no seu muro da saída (Rua Ottokar Doerffel). Eu enviei o questionamento para a Ouvidoria – e nunca recebi resposta. O muro visivelmente foi mudado de lugar para privilegiar o dono de um terreno (hoje virou temporariamente um estacionamento: vide um problema que já comentei) que, com a mudança, agora tem saída para o que era a via interna do cemitério. Enquanto toda aquela parte final teve seu acesso prejudicado, pois não há mais entrada, nem torneiras, nada.

O caso dos túmulos sendo construídos nas ruas, que recebeu a preocupação e a ilustre visita dos nossos vereadores também morreu por aí. Sem explicações, até mesmo o portão (vítima de uma perseguição policial) está lá, jogado num canto (arrumaram esses dias). Não há câmeras nem mesmo portão, nem funcionários ou seguranças. Nada. O cimento das obras é jogado nos bueiros e nas valas, entupindo e criando água parada. Restos de obras e pedras despejados nos corredores e nas ruas. Não há nem mesmo placas de sinalização vertical e horizontal de onde é saída e entrada, sentido das ruas. Nada. Além da total falta de respeito em cortar a insalubridade dos coveiros.

É uma pena que poucas pessoas frequentem os cemitérios e só apareçam nestas datas. Porque talvez houvesse mais valorização e cobrança. Quando estive lá semana passada para limpar encontrei um senhor. Na fila da torneira (também estava faltando…) ele comentou que, entre tantos filhos, só ele, genro, é que aparecia para limpar. E completou “Mas tá na Bíblia, né, ‘Cuidai dos vossos mortos’, acho que é em João.”. Não sei ao certo sobre a correção da citação. Porém, concordo muito com ele. Desconfio de quem não cuida dos seus mortos e da cidade que não cuida da sua memória.




6 comentários:

  1. Aquele muro merece uma sindicância do Ministério Público. Está na cara que foi feito pela própria prefeitura, à sorrelfa, para beneficiar algum cumpadre de alguém influente lá dentro. O acesso aos túmulos daquela área agora fechada pelo muro tornou-se extremamente dificil, especialmente para pessoas de mais idade.
    Considerando a "zona" que é a distribuição dos túmulos no espaço, sem a menor organização, alinhamento e vias de circulação, a coisa virou gincana de obstáculos. Ora via muito estreita, ora um túmulo desalinhado obstruindo a passagem, ou então poças de lama no meio do caminho. Agora, com túmulos de dois e tres andares, cuide-se dos pés e também da cabeça para não se chocar com alguma quina de granito mal colocada.
    E quando há um sepultamento então? Ainda não vi nenhum, mas julgo impossível caminhar carregando um caixão. Me contaram, que em alguns casos, naqueles tumulos mais próximo do muro da Ottockar o único jeito foi passar o caixão de fora pra dentro por cima do muro mesmo. Constrangimento total à familia.
    É lamentável que tenhamos um prefeito (membro atuante da Comunidade Luterana que tanto valor dá a essas questões), totalmente insensível, desinteressado e despreocupado com tal desumanidade. Fôsse eu um líder da Igreja Luterana já o teria expulsado da Comunidade à bengaladas se preciso fosse. Udo Dohler, você é uma vergonha para a nossa Igreja, nossa Comunidade e nosso Município.
    Obrigado Fahya por oferecer esse "gancho". Esse assunto não pode sair de evidência.

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    1. Então, por onde o MP? Dormindo, só pode. Porque em alguns lugares ele realmente funciona, mas por aqui...
      É impossível, uma tristeza ver um sepultamento por ali, e nem é pela perda, não. O mais absurdo é ninguém se dar ao trabalho de explicar, nadinha.
      Põe uma vergonha nisso, no dia de Finados os guarda municipais não ficaram nem duas horas por ali, em duas faixas de pedestres (tem três) e só cuidaram disso. Completamente abandonado.
      Obrigada eu, Nelson, pelos comentários de sempre.

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  2. Não tenho certeza, mas penso que "joinvillense" se escreva com dois L.

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  3. Gosto dos assuntos que você tem trazido a esse blog, parabéns!
    Ainda questiono o excesso de cimento e pedras nesses locais. Creio que o local ficaria mais agradável e acessível se fosse mais natural e plano, algo como os cemitérios-parque (só não sei se a manutenção também seria barateada).
    Gostaria de ver mais discussões sobre o enterro na vertical, que (creio eu) resultaria em melhor aproveitamento dos espaços.

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    1. Obrigada, Nunes!
      Acredito que é de acordo com as mudanças da cidade, cemitérios parque são raros por aqui (bem mais "bonitos" e acolhedores) e os verticais são uma real necessidade em cidades de grande porte - é o nosso caso, não? afinal são mais de 500 mil habitantes. Mas, infelizmente, estamos ficando "para trás" até nisso.

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