quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Joinville: o cenário da desolação


POR FAHYA KURY CASSINS
São tempos tristes para a cidade. Tanto para os que a amam quanto para os que não a amam (tanto assim). Talvez até mesmo para os mais privilegiados, pois esses dias vi uma BMW X4 a desviar zelosamente de todos os buracos e desníveis do asfalto pelas ruas onde passava. E não eram poucos, como sabemos. São tempos tristes quando cada notícia, cada denúncia, cada constatação nos leva a ver uma cidade que poderia ser, que poderia ter sido, mas não é. Não é a melhor. Não é a mais bonita. Não é a mais receptiva. Não é a mais feliz.

São tempos de incerteza quanto ao futuro – o futuro, claro, sempre é incerto, mas nesses tempos eles parecem ainda mais nebulosos. Os velhos hábitos, o ranço econômico e político, a estrutura social perduram e nada, absolutamente nada, nos dá uma luz no horizonte.

Escrevo com desolação. Escrevo com pessimismo. Acompanho as notícias da cidade, convivo e vivo todos os dias com as pessoas, vivo aqui. Nada de bom realmente nos faz ter um pingo de esperança. Relembrei meus artigos desde o começo do ano e quantos problemas, quanta dificuldade em termos uma cidade boa, acolhedora, cidadã, que nos respeita e ouve. Uma cidade da qual todos possam se orgulhar, não por motivos meramente apaixonados.

Os cemitérios estão em situação precária, túmulos sendo construídos a torto e a direito. Vereadores oportunistas, interesseiros. Muita propaganda em rede social. A alimentação básica das crianças (quem ainda não sabe que para muitos é o único lugar onde se alimentam?) vira piada – sim, piada. Nós fazemos piada com o que as crianças estão comendo (e deixando de comer, não esqueçam) nas escolas do município. Nessas mesmas escolas os professores são coagidos a dar aula tapando falta de profissionais, nos horários que deveriam ser dedicados às atividades inerentes do lecionar.

Nos postos de saúde, dentistas deixam de atender porque falta álcool. As obras se eternizam pelas ruas, PAs, postos de saúde e na tentativa de conter as cheias por falta de planejamento mínimo e de equipamentos básicos para os funcionários. Prédios históricos abandonados. Ginásios vazios devolvidos ao Estado. Atrasos na Cultura. Praças deterioradas. Parques sendo cercados. Idosos em eterna espera por atendimento.

A preocupação ambiental inexiste – numa cidade banhada (e alagada) por rios e mar e mata Atlântica. Aliás, as ruas (ainda) alagam com qualquer chuva de algumas horas. A empáfia do governante contagia seus secretários e alguns funcionários e nenhum se importa em dar as respostas que precisamos. A greve dos funcionários em respeito ao trabalho deles e pelo cidadão não recebe apoio. Tudo isso mantém a cidade refém, nem digo do seu passado – que foi glorioso outrora. Por hoje não teremos fotos daquilo que todos vemos, todos os dias.

Por hoje, não tenho nenhuma razão específica para escrever. Nenhum caso em particular diante de uma cidade onde transbordam problemas, abandono e descaso. Todos eles permanecem os mesmos. A única coisa que me motiva, hoje, a escrever é a desolação. Quando a sensação que tenho é que nem nos esforçando conseguimos acreditar numa cidade melhor. É um ato de consciência, que acredito que todos deveríamos ter. De que adianta termos um novo supermercado, uma nova fábrica, um prêmio acolá? De que adianta um título se a imagem que nos traduz perfeitamente é a placa comemorativa que em menos de dois meses já não acende mais, bem ali no gramado da Prefeitura?

Toda batalha cansa. Vence quem tem as melhores armas.

2 comentários:

  1. As ruas de Joinville nunca foram boas. Nunca!
    Soma-se a isso uma crise gravíssima que contraiu a economia do país em 10% durante 3 anos no governo Dilma (PT), e tens a tempestade perfeita para a falta de dinheiro direcionada a manutenção dos equipamentos urbanos em Joinville e em qualquer outra urbe brasileira.
    João Dória está privatizando em SP!
    Estadio de futebol subutilizado, parques sucateados, cemitérios... Os municípios têm de adotar medidas inteligentes como esta para sair da crise e sobrar mais dinheiro para educação, saúde e segurança.

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  2. nossa Fahya exatamente como enxergo a situação. e também, infelizmente, não consigo enxergar melhora. o comando da cidade simplesmente não se importa.

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