quinta-feira, 26 de outubro de 2017
Joinville: a pequena grande cidade
POR FAHYA KURY CASSINS
Mês passado eu li, no Facebook, o relato de uma jovem sobre as dificuldades absurdas que ela, e tantos outros, passam para conseguir estudar. Moradora de Itapoá e estudante de Letras da Univille, sua narrativa contava os percalços dos alunos que perderam o apoio do transporte da cidade e agora contam com meios clandestinos e pagos. Por vezes o motorista faz rotas mais longas para fugir da fiscalização, o que acarreta mais tempo de deslocamento, além do excesso de passageiros, e os horários excruciantes para quem tem que trabalhar e estudar – e ainda pagar por tudo isso.
O relato era de uma moradora de Itapoá, mas poderia ser de qualquer outra cidade. Quando apontamos os (muitos) problemas de Joinville não estamos a pensar apenas nos nossos umbigos. Mas o joinvilense, no geral, parece muito egoísta – a levar em conta algumas declarações. Quando criticamos a extensa (e interminável) fila nos hospitais, PAs e para exames, sempre ecoa um “mas não é só de quem mora aqui”. Quando alertamos para o aumento da criminalidade e para os problemas das periferias, ouvimos um “nem é gente daqui”. Mas claro que não.
O que se espera “da maior”? Que seja grande. Joinville se apequena ao não ser capaz de ser o centro da região. Joinville não dá conta de ser nem a “maior” do Estado, muito menos a “maior” para todo o entorno. Uma cidade com mais de 500 mil habitantes que não exerce a liderança para construir uma região metropolitana integrada. Que se exime de buscar universidades públicas de respeito que atendam a toda a região. Que não investe em ter hospitais e centros de saúde com capacidade para atender à demanda. Ou esperam que Campo Alegre ou Araquari tenham hospitais de referência na região?
Curioso perceber o ranço xenófobo e individualista da cidade que tanto se orgulha da sua quantidade de habitantes. Reclamam e fazem cara de nojo justo por aqueles que lhe dão o título. Ou não fomos criados como Colônia, com estrangeiros desde a barca Colon? Curioso, também, perceber que o outro “maior” é pelas indústrias que lhe dão o título econômico, que exportam para o país e para o mundo, mas a cidade se nega a atender um doente de Garuva ou a pensar numa estudante de Itapoá. Como se essas empresas, faculdades e comércios não dependessem da mão de obra e do consumidor não-joinvilense.
Quando lutamos por universidades públicas, por espaços de lazer e cultura, por centros de saúde organizados e capazes, por ruas acessíveis, por obras que tenham começo, meio e fim, por um trânsito inteligente, por transporte público decente, não estamos pensando só no nosso bairro, na nossa família. Não é assim que uma cidade grande pensa. Uma cidade grande pensa em como ser boa e atender bem a todos que dela necessitam. Não ficam presos em discussões sobre cidade de nascimento. Eu já disse e repito: Joinville não seria nada sem os não-joinvilenses.
Ainda mais importante é pensar-se como o centro da região, em como oferecer as condições que faltam a todo o entorno. É nisso que uma cidade grande pensa. Ela acolhe os que, infelizmente, precisam percorrer longos trajetos para fazer uma quimioterapia ou uma cirurgia na coluna. Ela negocia meios e estrutura para proporcionar uma melhor experiência para aqueles que dependem dela para acessar o conhecimento, seja numa universidade ou numa grande biblioteca (também não somos referência nisso).
Ser grande é não virar as costas. Ser grande é não tratar o outro com desprezo. Ser grande é, além de dar conta dos seus (coisa que não acontece hoje), acolher quem precisa. E nisso tudo somos muito e muitos pequeninos.
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Um triste e fiel retrato da nossa realidade. Ah...mas somos "a maior cidade de Santa Catarina" e a "terceira maior do Sul do Brasil". Então tá tudo certo.
ResponderExcluir:(
ExcluirJaraguá já tinha excelência e referência em saúde infantil (com um hospital infantil em Joinville!!!) e agora já faz cirurgias cardíacas complexas... acho que os hospitais de Joinville servirão para o atendimento dos munícipes locais mesmo, embora recebam $ do Estado para garantir serviços a toda “região metropolitana”.
ResponderExcluirOs pagamentos do Estado sempre chegam com atraso, e só são liquidados com intervenção judicial, e as tabelas estão defasadas há anos. A Prefeitura gasta com saúde muito mais que o dobro do estipulado em lei.
ExcluirUm legítimo joinvilense: a culpa é sempre do outro.
ExcluirLembra quanto tempo demorou pra ficar pronto o tão prometido infantil de Joinville? Eu ainda era criança quando começaram...
ExcluirO sistema público de saúde não se nega a atender pacientes de outras cidades. Além do Hospital Regional, o Infantil, tem também o Hospital Municipal São José, que apesar de municipal, tem 25% dos atendimentos prestados a pessoas de outros municípios. Outra coisa que não concordo, é que Joinville não seria nada sem os trabalhadores de fora. Seria alguma coisa sim, menor e com menos problemas. Os donos das indústrias não seriam tão ricos, mas seriam ricos o suficiente.
ResponderExcluir"apesar de municipal": eu não disse?
ExcluirSeria nada, não teriam as indústrias.
Mania que a ACIJ colocou na cabeça do povão.. "Se alguém tem culpa, é de Florianópolis, porque nós fazemos tudo direitinho". Em Jaraguá o empresariado é socialmente evoluído e essas discussões já foram superadas. Sou capitalista, temos empresas magníficas em nossa cidade, mas por interesses que tais, a culpa é sempre de algum fator externo. E o povão comprou essa tese.
ExcluirSempre mais fácil culpar o outro, né? E os empresários daqui, o que fazem pela cidade?
ExcluirApesar da intensão a abordagem está errada. Joinville vai neste quesito muito além das demais cidades Catarinenses gastando boa parte de seu orçamento com uma obrigação que não é sua e por isso falta dinheiro para investir em outras áreas. Estado de SC e União não fazem a sua parte e empurram as obrigações para o município sabendo que não deixaremos o caus reinar.
ResponderExcluirO município e as entidades tem brigado para que Estado faça a sua parte, mas estes se aproveitam da situação, já que a população alienada como sempre cobra tudo do município e nada do Estado e da União.
Acolher bem, sim é uma obrigação do município, custear não.
A "intensão" realmente está errada. É intenção.
ExcluirEsse discurso é velho e só para acalmar os apaniguados. Nós sabemos que "falta dinheiro para investir". Qualquer um que vive em Joinville duvida muito de que o caos não seja rei por aqui.
Porque, veja bem, não é só uma questão de cobrar do Estado e da União (coisa que Joinville nem faz e vive perdendo financiamentos por incompetência). É querer fazer e ser a cidade pólo da região.