quinta-feira, 17 de agosto de 2017

O problema não se resume a buracos e ciclofaixas


POR FAHYA KURY CASSINS
O que mais me revolta em Joinville é o cidadão não ser ouvido, não ter suas demandas atendidas e ser prejudicado pelas decisões e mudanças arbitrárias de uns poucos. Falamos tanto do trânsito e de buracos porque, óbvio, é o mais gritante problema que nos acompanha ao sair e voltar para casa. Mas, infelizmente, Joinville não é uma cidade onde o único problema é a sucessão de trapalhadas (para não usar outro adjetivo) com ciclofaixas, corredores de ônibus e mudança de vias.

Faz uns meses o SAD – Serviço de atendimento domiciliar, que visa atender pacientes que não têm condições de ir aos postos de saúde do bairro, com acompanhamento para situações mais graves e delicadas, tem sido desintegrado. Com a falta de enfermeiros e técnicos de enfermagem em hospital e PAs, os SAD deixam de atender para os funcionários taparem os buracos.

Aconteceu isso com o SAD do PAM Bucarein, num primeiro momento foi dito que ele atenderia no hospital São José pela proximidade com o bairro. Porém, desde então as pessoas não conseguem ser atendidas porque intermediaram o atendimento – e a demanda nunca chega lá. Não custa lembrar que o São José carece de enfermeiros, tendo alguns que cumprir turnos duplos em mais de um setor ao mesmo tempo, como Ortopedia e Neurologia.

A reforma do PA Sul foi, inclusive, usada na campanha eleitoral. Começou rapidinho, fecharam o estacionamento gratuito do terreno da esquina (e começaram a cobrar o da farmácia ao lado…), o planejamento previa que não seria fechado, pois quando pronta a primeira parte, fechariam o antigo prédio para reforma. E aí parou. Parou e disseram que as obras seriam retomadas. Quem sabe para a próxima eleição…

Aliás, vocês lembram do outro candidato da eleição passada que propôs criar uma central telefônica para agendamento de consultas? Pois é, hoje ainda, para quem não sabe, o cidadão precisa chegar antes das sete da manhã para pegar ficha. E muitas vezes não consegue. Parece uma solução tão simples: abrir agenda dos médicos do posto no sistema, algumas telefonistas e tudo ser agendado. Mas, durante a campanha eleitoral, a propaganda do atual prefeito não fez propostas para a saúde pública, só dizia que tudo ia bem.

O PAM do Bucarein, por exemplo, bairro onde moro e que concentra a maior população idosa da cidade, está há meses em reforma. Resolveram pintar, trocar umas telhas, tirar grama para fazer mais estacionamento para os médicos. A previsão era de noventa dias, agora prorrogaram para um prazo igual. E sabe o que farão? Fecharão o posto e avisaram que os atendimentos serão feitos no PAM do bairro São Marcos. Sim, avisaram, apenas. Os funcionários estão revoltados, os cidadãos também. Não cogitaram alugar algum espaço por perto para realizar os atendimentos durante o período, nem enviar para bairros mais próximos. É mais uma decisão estúpida e arbitrária que prejudicará pessoas que não têm a menor condição de arcar com deslocamentos. Ou contaremos com ônibus para levá-los nos horários das consultas?

E o pior é ouvir a população dizer que precisamos levar essas denúncias (de desmandos) e cobranças para a mídia. Porque, como sabemos, somos uma cidade grande que não conta com meios de comunicação que fazem o seu papel: estar ao lado do cidadão.

8 comentários:

  1. Sabe por que a imprensa não cumpre o seu papel? Por causa dos R$ 15 milhões que a prefeitura repassa para irrigar a horta da mídia joinvilense. Simples assim.

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    1. Por isso a importância de uma TV pública, gerida pela comunidade e para a comunidade. Não a quantas anda a rádio de Joinville e a UDESC. Mas vejo que estes seriam lugares ideias para divulgar ideias e ampliar os debates.

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    2. Sim, óbvio, Domingos. Mas eu diria que não só por isso.
      LS, será que resolveria? Não sei se é falta de reclamação da comunidade, levaríamos à rádio e à TV, mas como eu digo no início do texto (e em vários outros...) nós não somos ouvidos.

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    3. Fahya não se resolveria, porém para que não fique dúvidas sobre o que eu disse em relação ao meio de comunicação. Deveria haver uma TV Pública, ou seja, uma TV com ampla participação popular. É que as vezes o pessoal confunde pública com estatal.

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  2. Os médicos agradeceriam muito um sistema de agendamento por telefone no Posto de saúde, seriam tardes longas sem fazer nada,pois as faltas iam triplicar. Pois uns dos problemas do SUS são as faltas em consulta que chegam a 30%, por que o sistema não exige nenhuma responsabilidade do usuário.

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    1. Sério mesmo? Se você falta fica sem poder agendar novamente por um determinado período. É de uma falta de noção sem tamanho responsabilizar o usuário (de quem supostamente "não se exige responsabilidade nenhuma") por um sistema desumano. A única opção é madrugar em filas, para nem sempre conseguir uma consulta. Coisa de gênio. Porque o usuário é culpado, claro.

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  3. Primeiro não se pode fazer isso, de restringir por causa de uma falta no atual sistema vigente, então sua proposta não é juridicamente possível.
    Será que falta de noção mesmo ? Estou falando de um problema real, não foi eu que inventei as faltas no SUS, elas estão lá é um dado palpável, existem. E agendar por telefone só piora elas.
    Em relação ao encaixe existe e as filas de madrugada existe uma estratégia chamada acolhimento, mas as pessoas devem ir lá para ser ouvidas. Por que senão vira uma bagunça.
    Na Europa onde a maioria dos sistema de saúde são publicos as consultas em muitos sistemas não são de graça, há um custo e existem deveres a sercumpridos (uma forma de falar responsabilidades).
    Em relação a desumanidade e humanidade, a unica coisa que eticamente nos separa dos animais é que nós podemos ter deveres, é os deveres que nos diferenciam. Visto que os animais também podem ter direitos.

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