quinta-feira, 27 de julho de 2017
Pra dançar, dançar, dançar...
POR FAHYA KURY CASSINS
Desde criança eu vejo a cidade ficar bonita. O cinza dá um descanso aos nossos olhos e as ruas pouco habituadas à alegria se enchem de gente sorridente. Dizem que é o maior do mundo e lá se vão vinte anos que ele tem casa nova – nem mais tão nova assim. Eu vi. Eu vi o palco pequeno e a arquibancada apertada de tanta gente do velho ginásio. Eu vi as primeiras noites de casa nova, nos deram até almofada pra sentar no gelado das agora enormes arquibancadas. Quase todos os anos eu vejo a beleza subir ao palco. Aqui, na minha cidade.
Sabe a música, aquela? “Vão dançar com você...” a gente canta, ainda, todos os intervalos. Eu cresci cantando. Toda criança da cidade deveria ter a chance de crescer cantando. É assim que a gente cresce, de verdade. Eu quero crer que ninguém fica indiferente à beleza, à disciplina, aos movimentos executados com o coração. Eu quero crer que ninguém deixa de perceber como a cidade fica exultante com a horda de bailarinos que por aqui desembarcam em julho. Muitos vêm todos os anos. Alguns não virão porque daqui se lançam ao exterior, às carreiras profissionais tão sonhadas.
Sabe o governador, aquele? Deixou muitos políticos órfãos, mas sua morte deixou a Cultura deste Estado na penúria. Podem reclamar, mas um político erudito, amante das artes, tem lá seu valor. Ele trouxe a escola, aquela. Crianças do país todo vêm estudar, ali vidas mudam de perspectiva, vidas têm oportunidades. Eu conheci bailarinas que vieram pra cá, deixaram a família pela chance tão esperada de melhorar de vida. Melhorar de vida dançando. Quem não quer?
Desde criança eu vou. É meu orgulho particular sobre a cidade. Minha avó me levava, depois minha irmã, depois fui sozinha. É assim que se educa o olhar, o sentimento, o público. Tem gente que não vai, nunca foi. Nem param diante dos palcos nos shoppings e praças – dança de graça, quem não quer? Corações azedos, só pode. A dança faz bem pro coração. Ver a cidade naquele ginásio (só um pouco maior), as torcidas, a plateia sofrendo junto com cada escorregão do bailarino dispensa idas ao médico.
Tem quem vai mais ao sul visitar vinícolas, tem quem vai aos museus da metrópole, ou curtir as praias do nordeste, soube até de uns que vão à Disney, à Estátua da Liberdade (a verdadeira), ao Louvre e à Muralha da China. Uns são apaixonados frequentadores dos matsuris, das óperas e da Oktoberfest, há os que leem Sartre e Dostoiévski. E muitos desses nunca foram na Beira-rio encantar-se com horas e horas de um espetáculo que dança aos olhos – e eleva a alma.
Ainda há tempo. E se há quem não saiba completar “Pra dançar, dançar, dançar e...”, bom joinvilense não é.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O comentário não representa a opinião do blog; a responsabilidade é do autor da mensagem