quinta-feira, 18 de maio de 2017

Não dê ouvidos: o lema da gestão autossuficiente



POR FAHYA KURY CASSINS

Eu me perguntava porque uma cidade não ouve seus cidadãos. Parece-me claro que ela deva ser feita, dia a dia, para quem nela vive – e não para quem deseja mandar nela. Obviamente que os cidadãos precisam de emprego, escolas, hospitais, lugares onde trabalharão e onde gastarão seu dinheiro, fazendo a cidade prosperar. Porém, a cidade deve ser feita pensando no melhor para as pessoas, não para lucros e interesses escusos de alguns poucos. Qualquer um, longe de qualquer teoria academicista ou sociológica, pode perceber isso.

Por que, então, uma cidade ignora terminantemente seus moradores? Por que as reivindicações destes são desprezadas? E, para tentar chegar a algum lugar, o que podemos fazer para alterar a situação estabelecida?

Lembram que em Joinville havia o sistema da Ouvidoria? Bem, não dá pra dizer que resolvia, mas era alguma coisa. Lá, após um breve cadastro, você registrava a denúncia/queixa/elogio e acompanhava o processo. Visualizava para qual órgão havia sido encaminhado, qual a resposta, etc.. Nem sempre era satisfatório, mas existia um meio de comunicação. Curiosamente, às vésperas da eleição do ano passado, o sistema foi implodido. Deixou, simplesmente, de existir. Do nada, sem nenhuma explicação. Qual o interesse em mascarar o descaso com milhares de queixas e sugestões? Com o sistema fora do ar, tudo foi zerado.

Os processos que estavam em andamento também sumiram, e um aviso explicava que, se você quisesse saber sobre o sucedido, deveria enviar um contato pelo novo formulário ou ligar no famigerado 156. O novo sistema, por outro lado, é um formulário básico do qual você não tem acompanhamento algum. Como um “Contato” de um site ou blog qualquer. E do qual você não receberá resposta alguma. Contudo, no começo do ano (lembram?) saiu uma nota no jornal local que o Udo havia achado interessante a sugestão, via Ouvidoria, de um cidadão que sugeria a inversão dos sentidos da Blumenau e da João Colin. Estudos foram solicitados. Tudo parece tão surreal que quase nem dá pra comentar.

Fica difícil. Aí você pode tentar ir até o órgão responsável pelo problema que você tem e, com muita (mas muita) insistência alguém deixará você “protocolar” (sério, não existe um sistema unificado de protocolo, há um mero “carimbo” de uma secretária qualquer) a sua solicitação – e será uma árdua espera por qualquer tipo de resposta, o mais provável é nem saberem do que se trata. Ou você pode tentar, sei lá, me deem ideias. Porque eu realmente não sei.

Numa cidade que não realiza fiscalização, que não tem os equipamentos necessários (vide a lenda do decibelímetro), que não consulta as pessoas afetadas pelas implantações e mudanças que faz (em vias públicas, órgãos, fundações, secretarias, etc.), que não investiga denúncias, e que, enfim, ignora arrogantemente o cidadão, só resta estar jogada às obras mal feitas e ao descaso contínuo.

Às vezes a gente se ilude, como quando eu fiz este abaixo-assinado para levar pessoalmente aos responsáveis pelos transtornos no trânsito do entorno do Mercado Municipal. Porque parece que muitos cidadãos não se importam em não ser ouvidos e preferem aceitar bovinamente sua situação de súditos de uma prefeitura que, se trabalha, é só para os interesses de alguns ou para fazer lambanças que nos custam caro (em tempo, paciência, dinheiro). E quando alguém tenta fazer algo as iniciativas são igualmente desprezadas.

(o texto estava pronto e segunda-feira me deparei com o do Jordi, que vem bem a calhar, e também o último artigo da Raquel, sobre a falta de manutenção e tal: a discussão não pode morrer)

4 comentários:

  1. O governo ignora as solicitações da população.
    A população não acredita que terá suas solicitações atendidas pelo governo.
    Como diria o Baço: é a dança da chuva.

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  2. O que vou dizer abaixo talvez não tenha muito a ver com o assunto. Mas na hora do ocorrido, lembrei da Ouvidoria que não existe, conforme voce a descreveu.
    Vamos ao "causo".
    Aproveitei minha passagem por Pirabeiraba hoje pela manhã e fui ao Posto Médico para tomar minha vacina contra a gripe. Estacionamento cheio, mas a vaga para idosos estava livre. Fiquei contente. Entrei, um mundo de gente na fila, nos corredores e logo vi a placa na porta: Vacina. Peguei minha senha e esperei, junto com o resto do pessoal que aguardava. Esperei, esperei e nada daquela porta abrir ou ao menos indicasse algum movimento lá dentro. Depois de uns quinze minutos, perguntei a um rapaz que estava lá antes de mim: Voce sabe se estão atendendo? Estão, respondeu, mas a passo de tartaruga...Então olhei novamente a porta fechada e percebi um pequeno cartaz que dizia: "Este posto de vacinação está sendo informatizado para melhor atende-lo. Por isso o atendimento poderá demorar e sofrer atrasos. Pedimos desculpas pelo inconveniente" (era mais ou menos assim o texto). Quer dizer, estamos melhorando o sistema para piorar o sistema (É de pirar). Esperei mais um pouco, e como a porta não abria, devolvi minha senha, desejei boa sorte ao rapaz que aguardava, e caí fora.
    Depois leio nos jornais que a meta de vacinação não está sendo atingida esse ano. Porque será, não?
    E eu pensando que só o Brasil fosse surreal. Udo conseguiu transformar a nossa "eficiente" Joinville em um pequeno Brasilzinho...
    E nem Ouvidoria pra reclamar. Fazer o que né?

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    Respostas
    1. É o que eu me pergunto quando vejo tanta coisa, Nelson. Somos reféns das decisões de poucos. É revoltante. Muito revoltante.

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