quinta-feira, 9 de março de 2017

Violência contra as mulheres: também diz respeito aos homens


POR FAHYA KURY CASSINS
Li o relato de uma amiga sobre como tem sido angustiante ser mãe: de uma moça. A filha dela fez quinze anos e as situações de assédio têm sido alarmantes, na rua, no médico, nas festas. Na mesma semana ouvi uma colega falar para outra, grávida, que os homens no fundo sempre querem ser pais de meninos, porque sabem o que eles, homens, pensam e fazem com as mulheres (e não querem isto para suas filhas). Aí valeria a máxima de não fazer aos outros o que não quer para si, não é mesmo?

Lembro de ter deixado de usar vestidos e saias na adolescência. Eu me privei de algo que gosto muito porque não conseguia chegar até o final da quadra de casa sem ser assediada. E é assim a vida da mulher, ela vai deixando de vestir isso, de frequentar aquele lugar, de sair em tal horário… ela vai cerceando a sua própria liberdade em defesa da própria vida. E não há exagero nenhum, caros senhores, em dizer isso.

Minha amiga contou como a filha foi desrespeitada inúmeras vezes durante o Carnaval, os homens a deixaram em paz só porque um amigo dela se aproximou – um inclusive pediu desculpas ao rapaz, pensando que este era namorado dela, por tê-la assediado. Porque homens são assim, se respeitam entre si, não respeitam as mulheres, são solidários com os erros dos seus iguais. Por isso que temos políticas públicas voltadas para nossas necessidades, por isso é, ao mesmo tempo, tão triste e essencial que tenha sido votada a lei do feminicídio.

Em Joinville não é diferente. Em novembro de 2016 eram 16 mulheres assassinadas, sendo que mais de 40% por crimes passionais, além dos casos de estupro seguido de morte. Mulheres assassinadas que registraram inúmeros boletins de ocorrência (quando dá tempo), como as irmãs que foram mortas semana passada em Cunha Porã. Pelo fato de ser mulher. Pois ainda vemos repetidas vezes na imprensa, como se fosse uma justificativa, o famoso “matou porque não aceitou o fim do relacionamento”.

Já se sabe que a maioria dos casos de violência que sofremos é de homens próximos. Os homens não entendem como é difícil para uma mulher aceitar que é vítima de violência por quem mais ama, por quem deveria protegê-la. Ela precisa passar por um processo para tomar as providências necessárias, e mesmo quando as toma a sociedade não está apta para defendê-la – por isso ainda é tão importante que o assunto seja tratado em todos os lugares.

O assédio naturalizou-se em todas as instâncias, desde o abuso psicológico no lar, até o assédio no mundo virtual (com a prerrogativa de não serem descobertos ou punidos).
Todas nós nos sentimos impotentes, como essa minha amiga. E a situação só ganhará novos contornos quando os homens começarem a questionar e censurar os próprios homens. Enquanto isso, nós fazemos o que podemos umas pelas outras. E ao dizer um simples não na rua, não sabemos se chegaremos vivas em casa.

2 comentários:

  1. Olha, tem de fazer um muro e deixar as mulheres de um lado e os homens do outro. Levando em consideração a "amizade e a lealdade" femininas, veremos qual lado sobreviverá por mais tempo.

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  2. Levando em consideração a sua mentalidade, os homens morreriam de fome bem antes.
    Obrigada pela leitura.

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