quinta-feira, 2 de março de 2017

Povo pacífico e ordeiro não faz festa



POR FAHYA KURY CASSIN
Talvez sejamos conhecidos como “povo pacífico e ordeiro”. Ou, quem sabe, seja o prefeito e outros interessados que insistem nesta cantilena para que durmamos tranquilos. Também conhecemos a nossa origem germânica, de jardins bem desenhados e casas bem pintadas, horários devidamente cumpridos nas fábricas. Ou, ainda, talvez Joinville tenha crescido (finalmente) e pessoas de todos os lugares do Brasil e do mundo tenham a cidade como o seu lar.

E é aí que o problema toma proporções preocupantes. Joinville não é mais a cidadezinha de um povo que sabia de onde vinha (e se orgulhava demais disso) e tinha pleno domínio sobre tudo a sua volta. Nós viemos para cá e temos outras formações, trouxemos na bagagem outras culturas e mentalidades. O joinvilense hoje é múltiplo. E não aceita mais uma cidade estagnada, absurdamente conservadora e ultrapassada.

A cidade, por exemplo, pena com a falta de lazer e cultura. Não há parques, não há eventos, não há acesso dos jovens ao básico da formação cultural, não há festas. E quando o Carnaval entrou com força no calendário da cidade, em pouco tempo tentou-se amordaçá-lo. É inadmissível que uma gestão se esforce tanto para sufocar uma manifestação cultural do tamanho do Carnaval. O Carnaval só existe para o joinvilense que tem condições financeiras de ir à praia, ao Rio de Janeiro ou viajar para outros lugares, etc.. Para a esmagadora maioria do povo da cidade resta apenas o descanso do feriadão – e por isso nem é mais visto assim, pois a terça-feira foi encarada como dia normal pelo comércio.

Esse povo que vê suas ruas, creches e casas inundarem em vinte minutos de chuva várias vezes ao ano não pode fazer festa – e também não pode reclamar, visto que é pacífico. Mas é esse povo que rejeita a mentalidade colona, que questiona, e bate (e samba) o pé. É esse povo que já está tão misturado que não se vê mais tantos olhos azuis e encanta pelas diversas tonalidades de pele. E não são mais só operários que seguem nas suas bicicletas e tamancos em ruas de barro para as fábricas do centro. Esse povo estudou e estuda, batalha e quer uma vida boa. Ele conhece a cultura de outros lugares, sabe dar valor ao seu tempo e não aceita calado os desmandos de uma elite burra e autoritária.

Tem essa gente que, como bem disse o Jordi, morre de medo de nós que viemos de fora, que não pensamos como eles e não estamos dispostos a obedecer. É o provincianismo mais raso de um povo ignorante, que luta para incutir nos recém-chegados sua forma pacífica e ordeira de mentalidade de ervilha (retirei a expressão de um comentário do texto do Jordi). Por isso, também, concordo com o Baço ao atrelar cultura e turismo como oportunidades únicas para uma cidade crescer, desenvolver-se e lucrar economicamente. Porém, vamos antes falar de Cultura. Falta um longo caminho a ser trilhado (vamos evitar o “pavimentado”, visto as enchentes).

Falta perceber que uma cidade não pode ser eternamente o dote de uma princesa e a Atlântida de uns poucos que vieram de algum lugarejo do outro lado do mundo. A cidade precisa viver hoje, para o povo de hoje, com as ideias e atendendo às necessidades de quem a constrói diariamente.

52 comentários:

  1. A gestão se esforça para sufocar o carnaval?
    Querida, a gestão e as pessoas estão cagan&$@ para o carnaval. Carnaval é modinha, as pessoas foram, viram o programão de índio que é, e resolvaram aproveitar o feriado em casa no netflix. Ninguém dá a mínima para o carnaval e ninguém vai empurrar essa merd@ goela abaixo da população. Capiche?

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    1. "CArnaval é modinha" kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
      Anônimo, até para a igorância tem limite. Coloca a cabeça pra fora do mangue e observe o mundo que existe.

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    2. ahahahaha... Verdade, carnaval é modinha. Uma modinha que cresceu absurdamente em cidades em que antes não havia praticamente Carnaval de rua, como São Paulo e Belo Horizonte.
      "Quem não gosta de samba, bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou é doente do pé" => parece que escreveram isto pra você, Anônimo.

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    3. "Coloca a cabeça pra fora do mangue e observe o mundo que existe." gostei

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    4. "Carnaval é modinha", diz a sabedoria anônima. Provavelmente no ano que vem ninguém vai mais falar disso.

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    5. Não posso discutir questão histórica e cultural do tamanho do Carnaval (e não só no Brasil) porque é deficiência na formação da pessoa. Porém, é possível questionar que "ninguém dá a mínima", sendo que estamos aqui discutindo justamente isso.
      Boa, Raquel!
      E, sim, Cecília, há inúmeros exemplos de cidades que lucram com o Carnaval (São Paulo é exemplo recente), que possuem estrutura e investem nisso, Joaçaba aqui em Santa Catarina é um ótimo exemplo! (e nem é a "maior" do Estado)

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  2. Joinvilense, povo pacífico e cordeiro.

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  3. Sempre achei que não havia nada contra o Carnaval em Joinville,má vontade sim,daquela, típica de quem não curte...Neste ano mudei de ideia, há sim um enfrentamento ao Carnaval(e aos carnavalescos) em nossa querida Cidade, ficou muito claro...

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    1. Isso mesmo, Renato. Como não "víamos" o Carnaval, como "todo mundo" ia viajar, parecia... Mas há, sim, uma afronta (vide o sucesso de público que foi quando tivemos os desfiles), uma necessidade de barrar as iniciativas de quem produz Carnaval na cidade.

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  4. Muito bom seu texto, Fahya. Essas construções (quase sempre artificiais) das características de um determinado grupo precisam ser questionadas e não reproduzidas acriticamente. Eu cresci ouvindo uma espécie de hino não oficial de São Paulo que diz que paulista só pensa em trabalho. Tocava todas as manhãs numa das rádios mais ouvidas daqui. É um trabalho primoroso de moldar as mentes das pessoas.

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    1. Então, Cecília... uma amiga leu e disse "isso se encaixa em várias cidades de Santa Catarina". Esse povo pacífico e ordeiro, trabalhador, nada questionador. Cidades que precisam lutar pra ter Cultura e mudar uma mentalidade que bate de frente que a nova população do Estado.

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  5. Já passou da hora de colocar essa alemoada conserva dentro da barca colon e mandar "tudo" de volta pra salsicholândia...Deu pra bola deles.

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    1. É isso aí Lemos! Vamos mandar a alemoada de volta pra Salsicholândia!
      E os Haitianos também devem ir embor... não... espera... aí é racismo, xenofobia e preconceito!

      A esquerda agoniza!... e como agoniza!


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    2. Não sei se há muitos para mandar, é essa a questão. A cidade falsificou até enxaimel, passou da hora de perceber que somos muitos, múltiplos, sejam brancos ou negros, do Brasil ou de outros países. Não tem que mandar ninguém embora, mas não pode amordaçar quem faz, hoje, da cidade o que ela é.

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  6. Hhhhhhhh Carnaval é modinha? Modinha é blusinha, sainha, shortinho. Carnaval é cultura e tradição. O desfile da Sapucaí é o maior espetáculo da Terra. Não existe algo parecido, é único. Uma pena que não haja em todas as cidades brasileiras, claro, em menores proporções. Mas no fundo anonimetes, você também gosta... só quer causar rsrs. Délia (beijinho no ombro)

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    1. É essa a idéia, Délia. Cada cidade pode fomentar o seu Carnaval. Ninguém está falando em construir uma Sapucaí. Mas o joinvilense também quer o seu Carnaval (talvez vejamos os Anônimos pulando de felicidade pela Beira-rio).

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  7. A axigi não gosta de povo bagunçeiro e festeiro... aqui não!!! Aqui é povo ordeiro trabalhador de cabeça bem baixa e fundilhos de fora !!!!

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    1. Não saberia descrever melhor. Obrigada pela contribuição.

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    2. Muito boa essa definição e como combina.

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  8. Esse negócio de cultura sempre é perigoso, vai que alguém faz uma marchinha criticando o Udo!!!!!

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    1. Senti falta, aliás. Cadê a nossa criatividade?

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    2. Cadê a criatividade de vcs? deve tá lá pendurada no saco do carlito...

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  9. Acho que esse calor escaldante também é culpa do Udo!

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    1. Certeza que ele não tem ajudado - cadê as árvores nessa cidade?

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    2. Kkkkk! Vcs daqui do CA são uma piada!

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    3. Não vi piada nenhuma. Qual foi o prefeito que investiu em arborização? Que eu saiba nenhum. E uma cidade arborizada é muito mais bonita e aconchegante.

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    4. As árvores de Jlle?
      Vão bem! Especialmente as figueiras da Hermann Lepper, que a gestão do PT queria derrubar!

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    5. Ok, mas vamos ficar só nessas? Não há um projeto de ampliação da arborização? Ou há e não sabemos?

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    6. Se a pessoa não associa árvores ao calor... o que nos resta dizer?

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  10. Eu quero que o Carnaval se exploda. É uma bosta e o que puder fazer para que não ocorra, dentro do limite legal, eu vou fazer. Ou, pelo menos, com o dinheiro do meu imposto não senhores.

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    1. Engraçado, pouco importa que você não queira o Carnaval - há quem queira.
      E o dinheiro do seu imposto que é jogado fora nas obras inúteis (como a destruição do chafariz do Mercado, sem nenhuma necessidade nem justificativa), nas obras que se arrastam fora do prazo? Você está lá protestando? Foi reclamar nos órgãos públicos? E as faixas de pedestres que são pintadas e não duram um mês? Você questionou a secretaria de obras? Ou o dinheiro do seu imposto pode ser jogado fora nisso?
      Pense bem, meu caro, antes investir numa festa que gera dividendos para a cidade do que para o bolso de empresas que lucram com prefeituras que não prezam pela qualidade das suas obras. Ou, pelo menos, investir na felicidade das pessoas.

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  11. Aos defensores da festa sugiro colaborar com as escolas para que elas saiam no ano que vem. Pode ser como colaborador voluntário e pode ser com grana tb. Os defensores podem pagar uma mensalidade para as escolas e no carnaval ganhar o direito de sair fantasiado! Olha só que legal! um baita de um investimento para o dinheiro de vcs! tenho certeza que vcs sairão mais felizes da experiência de torrar o dinheiro de vcs pulando no asfalto...

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    1. Curioso, ninguém aqui havia comentado sobre o incentivo financeiro às agremiações, blocos, escolas. O problema não é esse. É uma mentalidade mesquinha que quer que o "Carnaval se exploda" porque não aceita que os outros pensem diferente. Sugiro pesquisar como o Carnaval não depende financeiramente do dinheiro público, que pode ser implantado aqui como em qualquer lugar - se uma fantasia não for uma afronta à moral e aos bons costumes de uma gentinha presa nas suas masmorras totalitárias.

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    2. masmorras totalitárias foi bom, en? ficou forte ali no final, deu um peso, né? Masmorras totalitárias. O gentinha é que não ornou muito bem com Masmorras totalitárias..

      Mas é isso, se organizem, façam a festa vcs com o dinheiro e o tempo de vcs. Como é o nome daquilo lá, crowfunding, é assim o nome? vai lá, Fahya, vcs tem um ano, dá para arrecadar uma boa grana. só não se esqueçam dos banheiros químicos, que mijar na rua é feio, e de segurança particulares, já que a polícia militar e a guarda municipal são más, bobas e feias.
      Mas ó, não esqueçam de combinar com o poder público e a polícia militar ANTES do evento ser realizado. Se vcs não fizerem isso a alternativa vai ser lamento em facebook e aqui nesse blog que é a última trincheira das lutas de vcs.
      Prometo que estarei em 2018, lá na passarela do alemão quirido, me deliciando com o talento de vcs.
      Masmorras totalitárias.

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    3. E as masmorras continuam superlotadas. Se for aparecer, não esqueça de pagar seu ingresso. É assim que se faz.

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  12. Seguinte: querem pular carnaval, pulem, oras. Chamem uma bandinha, uma batucada, liguem o stereo, enfim, façam a festa num clube ou numa rua comercial (longe das residências, por favor!). Em áreas públicas, avisem a polícia, em ambientes fechados, os bombeiros... Cabô!
    O problema de vocês não é o fato de não haver carnaval, vocês não se conformam com o fato dos cidadãos da cidade, de modo geral, não gostarem dessa festividade. É isso. As pessoas podem não gostar de carnaval, porque é um baita, mais um baita programão de índio. É chato pra carai! Em SP ou RJ pessoas descem às ruas para tirar selfie com dentes arreganhados e mandar no facebook, depois retornam para as suas vidinhas mentirosas e infelizes.

    Eduardo, Jlle

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    1. Perfeito Eduardo. Não gosto, mas respeito quem gosta, agora não concordo em pagar a conta.

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    2. "vocês não se conformam com o fato dos cidadãos da cidade, de modo geral, não gostarem dessa festividade."
      Embasamento para tal? Nenhum.
      Pagar a conta das cagadas do setor de obras tá de boa, mas duas viaturas pra fechar uma rua não pode.

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  13. Ai o carnaval, ai o carnaval... ai meu Deus o carnaval... Se não for na teta do dinheiro público não têm a capacidade de se organizar e fazer alguma coisa.. São os funcionários públicos Momescos... Se não tem o jeton da prefeitura ficam de biquinho. mi mi mi mi chola esquerdalha... 2018 bate às portas.

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    1. De onde se conclui que, obviamente, só "de esquerda" aproveita o Carnaval.
      A Lógica é incrível.

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  14. Fahya o joinvillense não conhece a história da cidade. Aqueles que dizem que aqui é uma cidade de colonização predominantemente germânica, não estudaram história e desconhecem o nascimento da cidade. Antes da chegada dos alemães, aqui já existiam europeus de origem portuguesa, principalmente açorianos e afrodescendentes. Não esquecemos que em Joinville está o maior número de afrodescentes do estado. Andando pelas ruas de Joinville, principalmente "centro histórico", vemos que arquitetura predominante é açoriana e não germânica. O primeiro mercado público municipal possuía arquitetura açoriana e não aquele falso enxaimel. Os primeiros administradores da cidade não tinham origem germânica. Portanto o correto é dizer que somos de origem luso germânica. Digo isso também, porque acredito eu e vários Joinvillenses nativos nos sentimos excluídos quando falam da origem de Joinville excluindo tudo aquilo que não diga respeito a cultura germânica. Sou de origem açoriana minha família pertencia a uma antiga colônia de pesca, hoje inexistente. Nossa cultura nasceu da migração, aqui não é lugar de uma cultura só e por isso precisamos valorizar a Festa das Flores, o Festival de Dança, feiras de rua como tinha antigamente e porque não o Carnaval!

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    1. Obrigada, Elton. Teu comentário é o que eu repito sempre para tentar abrir algumas cabeças. O Mercado é o símbolo máximo desse passado forjado. A cidade precisa entender que é plural, que não é predominantemente germânica, que tem origens escondidas e que, enfim, cresceu (só em tamanho?).
      A cidade persiste em pensar a si mesma como uma fábula. Isso só traz e trará desavenças.

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  15. Problema dos anônimos de sempre serem contra o carnaval, entre outras baboseiras proferidas e outras dissimuladas é evidente, carnaval é uma manifestação popular (eca), gastar dinheiro público com a Lira e o balé Bolshoi pode porque é chique. Afora o grotesco dos comentários do tipo se eu não gosto não pode ter. Pois é. Como diz o Baço, é a dança da chuva, provinciana diga-se.Entre outras coisas esse é mais um motivo para Jlle ser uma das cidades menos comunitárias e cidadãs que eu conheço.

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    1. Exatamente. É dessa gente que temos reclamado. Vivem no seu mundo e não percebem o quão poucos já são.
      E excelente observação: das cidades menos comunitárias e cidadãs que se tem notícia.

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  16. mas então eu me deparo com um vídeo de um tal de mangue livre (?????)
    Vcs desfilaram??? a policia deixou vcs cometerem aquela barbaridade contra o maracatu?

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  17. O fato é que a cidade,sendo como é, tem atraído muita gente.

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    1. Ela atrai, certamente. E é isso que não se observa, vem gente do mundo inteiro pra cá. Ela precisa estar aberta a todos esses e não fechar-se em si mesma.

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  18. Gostei dessa... "carnaval...é chato pacarai"... é o máximo de consideração que um artigo desses merece ...

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  19. Sensacional seu texto, parabéns. Além do enfrentamento natural desta cidade a tudo que vem de fora e fere a ordem reinante, temos esta onda conservadora e preconceituosa que ainda permite a qualquer um externar seu ódio e sua frustração em outros.

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    1. Obrigada, Gilberto, pela leitura. É exatamente sobre isso que temos alertado.

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