quarta-feira, 31 de agosto de 2016

CHUVA ÁCIDA 5 ANOS - Marquinhos Fernandes













POR MARQUINHOS FERNANDES

(...) Desler, tresler, contraler,
enler-se nos ritmos da matéria,
no fora, ver o dentro e, no dentro, o fora,
navegar em direção às Índias
e descobrir a América.
 Paulo Leminski

Neste ano, o blog Chuva Ácida completa cinco invernos e, por mais que muitos não gostem e certamente não levantarão um brinde num boteco “pé sujo” qualquer, continua incomodando.

Nesse momento eu me sinto incomodado a escrever sobre esse acontecimento.
Sim, nos tempos bicudos em que vivemos, ter um espaço onde a liberdade de opinião e a diversidade de ideias prevaleçam e sejam respeitados é, de fato, um grande acontecimento.
Uma grande parcela - espero que seja grande - da sociedade está farta e enojada das “opiniões isentas”. Do atentado à democracia que os grandes meios de comunicação adotaram em suas linhas editorias.

Órfãos de veículos com confiança, buscamos outras fontes de informação e de visão sobre os fatos do cotidiano. Sejam fatos políticos, econômicos, comportamentais ou culturais.

O Chuva Ácida preenche uma lacuna deixada pelo esgotamento de credibilidade e relevância social da mídia tradicional. Vida longa ao Chuva Ácida!



Marquinhos Fernandes
é professor e ex-secretário
de Educação em Joinville

Trem da Alegria














POR RACHEL MIGLIORINI

Assistindo o julgamento (??????) da presidente Dilma Rousseff e tendo como inexorável seu afastamento, vejo que o usurpador interino está fazendo as malas para ir à China. Notícia da Folha de São Paulo  traz a manchete “Em agrado ao Congresso, Temer levará parlamentares à China”. Isso mesmo, caro leitor. Ele fará agrados com o meu, o seu, o nosso dinheiro.
Vamos então à lista do trem da alegria:

Eliseu Padilha – Ministro da Casa Civil: por empregar funcionários fantasmas, o Ministério Público Federal pediu o bloqueio de bens do Ministro, a condenação dele por improbidade administrativa e a devolução de R$300 mil aos cofres públicos.

José Serra – Ministro das Relações Exteriores: está em julgamento por formação de cartel de trens em licitação de R$ 1,8bilhões enquanto era Governador de São Paulo. Recebeu, segundo denúncia da Odebrecht, R$ 23 milhões em caixa dois.

Renan Calheiros – Presidente do Senado: denunciado por crimes de peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso por supostamente ter recebido propina da construtora Mendes Júnior para pagamento de despesas de uma filha que teve fora do casamento.

Romero Jucá – Senador e ex ministro: em conversa gravada com o ex-presidente da Transpetro, revela o pacto para barrar a Operação Lava-Jato.

Beto Mansur – Deputado Federal: é acusado por manter trabalhadores em situação de escravidão.

Pauderney Avelino – Deputado Federal: acusado de superfaturar contratos de imóveis alugados pela prefeitura para instalação de escolas, foi condenado a devolver R$ 4,6 milhões aos cofres públicos.

Fabio Ramalho – Deputado Federal: responde por crimes contra a administração pública.

Altineu Cortês – Deputado Federal: aliado de Cunha, responde por corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro.

Todos os Deputados foram indicados por Rodrigo Maia - presidente da Câmara de Deputados – que consta da lista de Furnas como recebedor de propinas. Antes dessa comitiva, viajam o ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, Blairo Maggi, da Agricultura, e Maurício Quintella, dos Transportes. Esses últimos participarão de encontros com empresários e ministros chineses. Mas e os outros?

O argumento da viagem é a reunião do G-20 mas, a contar pela comitiva, pelos últimos acontecimentos  e pelo país que sediará o evento, tenho certeza que o assunto principal será a democracia.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

CHUVA ÁCIDA 5 ANOS - Rafael Meurer













POR RAFAEL MEURER

A informação é a maior arma para libertação. Os meios de comunicação são instrumentos importantes de dominação por parte de quem é o dono do poder. Por isso é tão importante a democratização da comunicação, da informação. Seja ela por imagem, som ou escrita. Mas estamos longe da democratização dos meios tradicionais de comunicação. Afinal, grande parte está nas mãos de meia dúzia de famílias neste país.

Mas com a internet isso começou a mudar, facilitou para aqueles que tinham uma ideia, uma informação, mas não tinham o meio de divulgá-la. O surgimento de blogs foi a grande chance de democratizar as informações, as ideias, as opiniões. Estamos vivendo uma transição, onde a informação é instantânea, onde todos podem ser agentes ativos neste processo. Deixamos de ser meros receptores dos meios de comunicação tradicional para sermos produtores e divulgadores de informações e ideias.

Aqui em Joinville esta relação é muito parecida com o resto do país. Mas alguns blogs fazem o enfrentamento, como o Chuva Ácida. Com um nome que tem tudo a ver com Joinville e com a intenção do blog, de falar aquilo que os outros tem receio, de colocar o dedo na ferida, de observar pelo lado que os outros não observaram. A ideia é abrir espaço para quem de fato discute a cidade, vive ela e enfrenta os problemas dela. Sempre com um assunto importante em discussão, o blog completa cinco anos de ótimas leituras. Que fique muito mais tempo em atividade, que esta chuva não pare.


Rafael Meurer
é professor de História
e acadêmico de Direito.


https://www.facebook.com/rafaelmeurer2016/?fref=ts

Udo Dohler é candidato a Madre Teresa de Calcutá?


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

As auto-referências são para evitar. Mas parece oportuno lembrar um post publicado (aqui) em janeiro de 2012, quando Udo Dohler anunciou a decisão de concorrer à Prefeitura de Joinville. O texto pretendia refletir sobre as dificuldades que o empresário teria para manter a postura de gestor. Afinal, o chamado da política é sempre mais forte. O próprio Udo Dohler reconheceu esse risco, mas disse estar preparado para enfrentá-lo. Parece que não funcionou.

Passou o tempo e os fatos se encarregaram de esvaziar a figura do gestor. O slogan “não falta dinheiro, falta gestão” entrou para o anedotário da política local. Hoje, passados quase cinco anos, o homem que concorre à reeleição é 100% político. E com um problema a resolver. Udo Dohler ficou igual aos outros candidatos, mas com o ônus de ter feito uma administração muito questionada. É preciso criar um diferencial. Como? Eis um trabalho para os marqueteiros.

Udo Dohler tem poucas obras estruturantes para mostrar. E não se encontram sequer resquícios de uma estratégia consistente para a tal Joinville do futuro. Então é melhor eliminar, da semântica da campanha, uma fraseologia que aponte para os seus déficits. Gestão, saúde, planejamento, asfalto, Joinville 2030, entre outras expressões, são incômodas. Desviar o foco é um velho truque do marketing. Afinal, quando falta obra... sobram slogans. 

De que se lembraram os marqueteiros? Ora, uma olhadinha para as pesquisas de opinião mostra que a honestidade aparece, de modo reluzente, entre as preferências dos eleitores. Perfeito. Ainda mais porque um dos principais adversários, o deputado Marco Tebaldi, já foi condenado por improbidade administrativa. E surge uma campanha baseada no conceito de “honesto”, de “mãos limpas”, de “incorruptível”. Funciona? Talvez. O marketing tem poder, mas...

Alguém duvida da honestidade de Udo Dohler? Não. É chover no molhado. E há uma questão sociológica. O caráter de muitos brasileiros mistura o "espírito macunaímico” e a lógica do “laissez faire, laissez passer”. Ou seja, o Brasil é o lugar onde – infelizmente – o inconsciente social tem convivido de forma apaziguada com a expressão “rouba, mas faz”. A recente pesquisa do Ibope permite interessantes conclusões a esse respeito. Outra coisa para deixar com um elefante atrás da orelha: Darci de Matos não entrou na equação?

Um olhar panorâmico pelas campanhas até agora permite ver que nenhum candidato traz propostas disruptivas. Os compromissos são todos muito iguais. Aliás, é de salientar candidatos que andam de pires na mão e a fazer campanhas modestas. Udo Dohler é, disparado, quem apresenta uma campanha com maiores maiores recursos técnicos. Mas algo não cola. A campanha do atual prefeito parece propor uma espécie de “slogancracia” (um governo de slogans).

Pode funcionar, mas há riscos. Mãos limpas, honesto, incorruptível... fica aparecer que Udo Dohler é candidato a Madre Teresa de Calcutá. Mas será ele o prefeito que Joinville deseja? E já que falamos em slogans, não custa lembrar a assinatura da marca AXE: “a primeira impressão é a que fica”. De propósito fecho o texto com alguns slogans clássicos que, reunidos numa proposta, poderiam servir como linhas orientadoras de um programa de governo:

- Think different (Apple).
- Expand your mind, change your world (NewStatesman).
- Imagination at work (GE).
- Innovation (3M).
- Impossible is nothing (Adidas).


É a dança da chuva.




segunda-feira, 29 de agosto de 2016

CHUVA ÁCIDA 5 ANOS - Jéssica Michels













POR JÉSSICA MICHELS 

Eu consigo lembrar dos rumores de “um blog sobre a cidade”, que estava a ser planejado.

De fato, realmente acompanho o Chuva Ácida desde 2011, quando ainda estavam no processo de naming deste canal. É necessário falar que foi bem interessante ver várias amigas e amigos passando por aqui. E é aqui que vejo a importância deste espaço, exatamente por ter algumas dessas pessoas no meu círculo de convivência pessoal, e ver como é interessante o processo de reaprendizado que tive através da escrita, do pensamento, do estilo de cada uma.

Agradeço imensamente às amigas Maria Elisa Máximo, Emanuelle Carvalho, Valdete Daufemback, Fernanda Pompermaier e Fabiana Vieira que durante alguns períodos toparam o desafio de ser mulheres deste espaço. Agradeço também a todas as outras mulheres que participaram da seção de “Brainstorming” transformando e incentivando uma pluralidade de vozes. E assim, estendo meus parabéns a toda equipe do Chuva Ácida, que está comprometida com o debate de ideias.


Jéssica Michels
é fotógrafa
e ativista dos 
direitos civis.

https://www.facebook.com/jessicamichels1?fref=ts

Começou a corrida à Prefeitura. E é mais do mesmo...


POR JORDI CASTAN


Deu a partida para a campanha eleitoral. São poucos dias, muitos menos recursos que nas campanhas anteriores e uma corrida desigual que beneficia os candidatos que concorrem à reeleição. No caso de Joinville ,os primeiros números divulgados pela pesquisa IBOPE trazem poucas novidades. Mas a campanha está se mostrando surpreendente.

UDO DOHLER - Candidato a reeleição depois de quatro anos administrando Joinville, traz poucas novidades a insistência na honestidade como diferencial e o fato de acordar cedo. Muitos eleitores não entenderam ainda se é um problema de insônia ou se acredita mesmo que Deus ajuda a quem cedo madruga. Sobre os seus dotes de gestor e administrador até agora só um ominoso silêncio. Faz bem o seu marqueteiro em esquecer desse bordão da campanha de 2012, dificilmente o eleitor acreditaria de novo na patranha dos seus dotes de administrador.

DARCI DE MATOS - Empatado tecnicamente, dentro da chamada margem de erro, o deputado estadual Darci de Matos aparece em segundo lugar. É um segredo a vozes que o projeto de governar a maior cidade de Santa Catarina não é um sonho novo. Há muitas dúvidas sobre como o eleitor receberá a imagem de bom moço. O bom mocismo acompanha o discurso do candidato desde o inicio da sua carreira política. Darci é um dos maiores exemplos de como a política é generosa. Como em pouco tempo é possível deixar atrás a infância dura em Cafelândia e gozar de uma vida confortável e economicamente estável.

MARCO TEBALDI - O terceiro nas pesquisas e também empatado tecnicamente é o ex-prefeito Marco Tebaldi, que já mostrou qual é o seu modelo de administração. Os joinvilenses podem até ficar em dúvida sobre se o "fazer a todo custo" é a melhor forma de levar Joinville adiante e se é este o perfil ideal para o momento peculiar que vive a cidade. Mas não há duvidas: praticamente um quarto da população que já definiu seu voto acredita ser a melhor alternativa para sair do marasmo em que as últimas gestões têm mergulhado Joinville.

CARLITO MERSS - Em quarto lugar outro ex-prefeito. É Carlito Merss, que navega contra a rejeição e ensaia a sua volta à vida política, para evitar ser esquecido pelo eleitor. Não é nenhum segredo que o ex-prefeito não está participando desta corrida, ou seja, está lutando a sua própria batalha para sobreviver politicamente. Seu projeto político não passa mais pela prefeitura e sim por tentar a volta ao Legislativo. Esta só medindo o tamanho do capital político que sobrou depois do debacle.

DR. XUXO - No mesmo pelotão esta o Dr. Xuxo. A sua candidatura sentiu já na largada a força que podem ter as redes sociais. Se espalhou, de forma viral, um texto que continha acusações gravíssimas sobre o candidato. E que mostraram como esta eleição poderá ser vencida ou perdida nas redes sociais. Se sua candidatura crescerá ou se manterá no mesmo patamar será o que mostrarão os próximos dias.

RODRIGO BRONHOLDT - O candidato Rodrigo Bornholdt é o menos conhecido dos que disputam este grupo. Em princípio é o que tem maiores possibilidades de crescer se consegue projetar a imagem de que pode fazer diferente. O eleitor se mostra cansado de mais do mesmo e se na eleição passado escolheu aquele que achou o menos ruim, nesta pode preferir aquele que fará diferente em resposta ao mais do mesmo.

IVAN ROCHA - No último corpo está Ivan Rocha, um outsider que dificilmente será visto pelo eleitor como uma alternativa real, mas que tem a liberdade para poder oferecer propostas de governo completamente novas e fora do espectro habitual do eleitor.

Os outros candidatos listados na pesquisa tem ínfimas ou nulas possibilidades de chegar a um dígito no dia 2 de outubro.

Joinville tem pela frente uma corrida que apresenta poucas surpresas e a cidade precisa ser surpreendida para mudar, porque mais do mesmo já sabemos onde vai nos levar. 

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Justiça com as próprias mãos














POR LIZANDRA CARPES

Tivemos em Joinville, no dia 11 de agosto, um caso exemplar de justiceiro que quis lavar a honra (honra que se resumiu em um celular) com sangue ou com um golpe de arte marcial (golpe que se resumiu no que era a vida de alguém). Diego Felipe Fortunato Cidral era jovem e negro. E após uma gravata para ser imobilizado, acaba sem vida. Mais uma pessoa que entra nas estatísticas do genocídio da população negra.

Não vou entrar no mérito das questões do racismo (tema que o Felipe Cardoso trata com maestria aqui no Chuva Ácida) ou se houve ou não intenção de matar, pois para isso haverá um processo de julgamento. Vou aprofundar, sim, a questão da banalidade da violência e a desvalorização da vida. Muitos foram os comentários e posicionamentos. No entanto, o que mais choca é a crueldade aberta e pública em redes sociais: “Ainda bem que morreu, menos um”.

É preciso entender que a violência vai muito além das agressões e da morte. Ela se perpetua na incitação. Qualquer ato cometido que viole a Constituição Federal Brasileira de 1988 é um ato de violência. Ou seja, há violência quando não tem escolas, há violência quando pessoas morrem nas filas dos hospitais, há violência quando o Estado é ausente de suas obrigações.  E esta é a mais ameaçadora das violências, porque é provedora da injustiça e da desigualdade, a raiz do problema.

Quando “fazer justiça com as próprias mãos” ou “linchamento” tornam-se solução, isso evidencia também o atestado de falência dos setores que devem organizar estes conflitos sociais. É evidente que existem ferramentas e interesses que se alimentam da violência. A mídia sangrenta que vende horrores de publicidade com programas policialescos. Quanto mais sangue, mais audiência, gerando a indústria do medo, que, como diz o sociólogo Zygmunt Bauman em seu livro “Em Busca da Política”, uma sociedade amedrontada é de fácil manipulação.


A única justiça que podemos fazer com as próprias mãos é lutar por justiça social. É ocupar os espaços de decisão. A justiça com as próprias mãos se faz com conhecimento de causa e na participação política. Não movida por sentimentalismos. É fiscalizar e monitorar o serviço público e, mais que isso, cobrar resoluções. E no ciclo vicioso da violência, a pergunta que fica é: quem comete a violência primeiro, o cidadão e a cidadã ou o Estado?