sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Nos fios da teia #5












POR SALVADOR NETO


Ano novo, novos momentos? Não, não... Vem aí a guerra eleitoral, e não faltará munição para todos os lados. Vamos a mais fios da teia:

E a saúde, óoo – Hospital com 74 pacientes internados acima da capacidade de apenas 27 leitos no pronto socorro e aproximadamente mais 20 encontravam-se em observação. Além disso, o ar-condicionado do posto de enfermagem e o da sala de emergência de apoio estavam estragados e apenas um banheiro estava em condições de ser utilizado pelos pacientes. Aonde está acontecendo isso? Em Joinville, na gestão do homem da saúde, o prefeito Udo Döhler.

E a saúde, óoo 2 – A gestão do PMDB na Prefeitura de Joinville não gosta que toquem neste assunto incomodo, mas não dá para esquecer. Udo foi eleito com base na experiência como gestor (??), um entendido em saúde por estar a frente de um hospital há 40 anos, e por repetir exaustivamente em 2012: “Não falta dinheiro, falta gestão”. Além do caos no querido Hospital São José, tocado obstinadamente por servidores dedicados, continuam a faltar remédios básicos nos postos de saúde. Literalmente uma vergonha.

Buracos e Z(y)icas – A invasão de buracos nas ruas da maior cidade catarinense já virou até piada nos bairros e em redes sociais. Enquanto a Prefeitura de Udo Döhler diz que luta contra a proliferação do mosquito Aedes Aegypti que passa o Zyca Virus, dengue e outras doenças graves para a população, o povão que sofre com a buraqueira já disse que a casa dos mosquitos agora está também nos buracos  das ruas, onde a água parada é o habitat preferido do mosquito. Isso sem deixar de lembrar da matagueira em praças, ruas e terrenos. Aliás, os buracos já fizeram vítimas fatais com queda das “zicas”, como o joinvilense chama as bicicletas.

Um “Rey” na Câmara – Sucupira é aqui. Não bastasse a pífia gestão municipal, ou seja, do executivo, a gestão no legislativo também não deixa por menos. Depois das catracas milionárias, reformas no prédio com acusações de favorecimentos, iniciamos o ano de 2016 com a estrondosa visita de Doctor Rey, um cirurgião plástico que ganha a vida como apresentador fashion. Os nobres vereadores, parte deles claro, dedicaram seu tempo para recebe-lo e tieta-lo, claro. As fotos viraram chacota, e geraram revolta. O povo não os ve fiscalizando o abandono da cidade, mas pra fotinho com Doctor Rey... E viva Joinville!

Eleições – O eleitor imagina que a eleição só começa em setembro, outubro. Mas não. Os bastidores para as eleições municipais em Joinville fervem. Os prefeituráveis até o momento são: Udo Döhler (PMDB), que busca ser reeleito, Dr. Xuxo (PP), Darci de Matos (PSD), Carlito Merss (PT), Marco Tebaldi (PSDB) que será obrigado a ir após a desistência de Ivandro de Souza, Rodrigo Bornholdt (PDT) e Ivan Rocha (PSOL). Sete postulantes que correm sofregamente atrás de partidos menores, e candidatos a vereadores, para fechar coligações. Pelo andar da carruagem serão todos contra Udo.

Eleições 2  – Outra corrida nos bastidores é por vices ideais. Rumores dão conta de troca-troca de partidos para que alianças sejam fechadas entre os partidos. Tudo para a busca de tempo de tv, e claro, vices mais simpáticos e populares em alguns casos. Como há tempo até o final de março para filiações partidárias e trocas de partidos, o sururu é grande em partidos como o PDT, PPS, PSD, PP, PTB, DEM, menos no PT. Lá o desgaste vindo do massacre midiático vindo pela operação Lava Jato dificulta até formação de chapa para vereadores, que dirá para vice.

Brasília em tensão – A volta das atividades no Congresso Nacional marca uma retomada da temperatura política, arrefecida com o recesso das festas de final de ano. Dilma trocou o ministro da Fazenda, conforme adiantado aqui na última coluna “Nos fios da teia #4) para dar um novo ritmo e motivação à economia. Até agora nada andou. A espetacularização da operação Lava Jato indica que a guerra entre oposição/mídia e governo não vai reduzir, o que faz muito mal ao país. 

Brasília em tensão 2 - E na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha manobra para não perder a cabeça, tentando articular para que o PMDB vote pela abertura do impeachment. E Temer? Bom, Temer tenta salvar seu poder a frente do PMDB, ameaçado por Renan Calheiros, presidente do Senado. Temer percorre o país pedindo votos dos seus deputados federais e senadores. Aliás, esteve em Santa Catarina ontem (28) ao lado de Mauro Mariani, presidente do PMDB e seu aliado no PMDB. Briga de cachorro grande. Enquanto isso quem sofre é o trabalhador.


É assim, os fios da teia nas teias do poder...

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Boicote



POR FELIPE CARDOSO

Dois mil e dezesseis mal começou e as denúncias de racismo já começaram a aparecer. Muitos já afirmam que o ano de 2015 ainda não acabou. Então, vamos a luta.

Os resultados do vestibular acenderam, mais uma vez, o debate sobre as cotas sociais. Assunto já tratado aqui, anteriormente. O que não faltou foi gente afirmando que não conseguiram a aprovação no vestibular por conta das cotas, como se quem faz uso dessa política paliativa não tivesse que estudar para conseguir cursar a universidade e já tivesse com a vaga garantida.

Não há negros entre os atores indicados ao Oscar, mais uma vez, mostrando o silenciamento, invisibilidade e o desprezo aos excelentes trabalhos realizados por atores e atrizes negros no cinema.

A Rede Globo iniciou a transmissão de mais uma edição Big Brother Brasil e com mais racismo (para não perder o costume). Uma esponja, para os participantes lavarem a louça durante três meses – com transmissão para todo o Brasil – tem simplesmente o formato de um homem negro com um black power. O corpo do boneco é a base e o cabelo é a esponja. Por estar definhando por falta de audiência, os diretores do programa certamente acharam que colocar temas polêmicos dentro da casa “mais vigiada do país”, pudesse recuperar o sucesso obtido no início. Mais uma vez tentando fazer dinheiro com a nossa desgraça.

A tragédia racial parece não ter fim.


A cada dia fica mais visível que o racismo está em todo lugar. É um sistema perverso, estrutural e institucional, não sendo exclusividade apenas brasileira, tendo formatos diferentes em cada país, mas que possui o mesmo objetivo e resultado: a morte e o encarceramento da população negra.

Não é de hoje que viemos estudando e denunciando o papel influente da mídia em relação a esse grave problema que nos atinge. Mas parece que não querem nos escutar, principalmente as marcas que insistem em não enxergar negros e negras como um público consumidor.

Prova disso é a recente propaganda da Pepsi em que afirma que o mundo está muito chato atualmente, por conta das reivindicações das minorias em busca das conquistas dos seus direitos. Isso só deixa mais visível o distanciamento da realidade entre a marca e o público, a falta de empatia e sensibilidade para perceber, entender e acompanhar as mudanças do mundo. Talvez a democracia e a multiculturalidade poderiam dar mais resultados positivos e lucrativos a marca de refrigerante do que a propagação de mais discursos de intolerância que vem mostrando desastres catastróficos diariamente.

Mas quem deseja ouvir no mundo da mídia e da publicidade? Talvez outras medidas podem fazer as ditas camadas minoritárias serem ouvidas e passarem a ser respeitadas.

Boicote!

Em resposta a todos esses acontecimentos, diversos negros e negras começaram uma campanha de boicote pelo mundo. Nos EUA, diversos artistas lançaram uma campanha de boicote a premiação do Oscar. No Brasil, as mulheres negras lançaram a campanha “não me vejo, não compro”, para tentar mostrar para a sociedade que a população negra também gosta de ser representada e se identificar com os produtos expostos nas lojas, na novela, na publicidade, no cinema, no teatro, na moda…

Parece que as pessoas brancas, detentoras do poder econômico, não querem representar a variedade cultural existente no mundo. Daí, quando criam-se cotas para a inserção e garantia da democracia na sociedade, as pessoas torcem o nariz, criticam, mas não conseguem observar tamanha disparidade, denunciada durante anos. Não haveria necessidade de cotas caso algumas pessoas notassem seus privilégios em relação as outras e tomassem medidas para mudar o quadro.

Pode parecer inofensivo, no momento, uma campanha de boicote, mas com cada vez mais pessoas acessando as mídias sociais, fica mais fácil organizar uma grande ação para mostrar para empresários e agências de publicidade que o público negro existe, trabalha e merece respeito e representação, assim como mulheres e LGBTs. Eventos passados, como os boicotes realizados nos EUA, durante o século passado, nos inspiram e nos asseguram sucesso na luta por direitos.

Alguns resultados começam a aparecer. Por conta do boicote, a Academia anuncioumudanças no Oscar. Para os pessimistas, que achavam que isso não importava, que era vitimismo dos negros e negras, poderão agora repensar sobre o assunto, pois as mudanças não contribuirão apenas para a valorização de atores, atrizes, diretores e diretoras negras, mas também para asiáticos e latinos que também não recebem devida atenção pelos trabalhos produzidos.

Tomemos como exemplo esses diversos acontecimentos para lembrar que o poder está nas nossas mãos e devemos saberutilizá-lo com coerência.

O “sonho” de Luther King se constrói com muita luta! Avante, negros e negras!

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Eu quero pagar pela Tarifa Zero e você também deveria querer

POR FELIPE SILVEIRA

Depois de muito tempo de esquiva, me enfiei novamente em um debate sobre Tarifa Zero com um amigo de direita (estou falando daquilo que nós, identificados com a esquerda, chamamos de direita, embora muitas vezes eles não se assumam como tal – e respeito a posição). Mais uma vez o debate gira em torno da questão do financiamento e o chavão “não existe almoço grátis” vem à tona. É clichê, mas é um debate que importa e muitas vezes fica jogado de lado. Por isso decidi escrever algumas palavras sobre o assunto.

A direita erra ao considerar que pessoas e movimentos que propõem e defendem a Tarifa Zero, especialmente o MPL (grande protagonista da causa no Brasil), não se importam com a questão do financiamento. Não há uma pessoa que defenda a ideia a sério, com profundidade, que não saiba das complicações que a execução da ideia exige. Porém, muitas vezes esta questão nos é tão óbvia que parecemos não nos preocupar com ela. Às vezes, no calor das palavras de ordem, da indignação com a violência, da defesa de um direito (agora constitucional), não ligamos muito em mostrar que temos propostas, que não estamos sonhando e que faz sentido lutarmos, imediatamente, por esta causa.

Feita a introdução, vamos ao que interessa. Enumero alguns pontos abaixo, mas friso que alguns são inspirados em construções coletivas (ideias que o MPL defende, por exemplo) e outros argumentos são posições individuais, a partir da observação de outras pautas e conceitos não diretamente relacionados ao transporte. Algumas ideias são do candidato a prefeito pelo PSOL nas últimas eleições, Leonel Camasão, que escreveu as suas sugestões aqui. Acho importante dizer que sempre participei de manifestações e atividades pelo passe livre, mas nunca fiz parte do MPL.

1) CONTE UMA NOVIDADE SOBRE ALMOÇO GRÁTIS
O passe livre custa caro e ninguém sonha com almoço grátis. Porém, entendemos que este direito é importantíssimo, assim como saúde e educação, de modo que, não importa o custo, precisamos desenvolver uma forma de pagá-lo. Por isso faz pouco sentido falar em valores específicos. As cidades têm tamanhos e contextos diferentes. Cada uma vai exigir um diálogo com a sociedade e um desenvolvimento diferente da questão.

2) DESIGUALDADE QUE GERA MAIS DESIGUALDADE
Entendemos que a distribuição dos recursos no mundo e no Brasil é bastante desigual, de modo que há dinheiro para pagar saúde, educação, lazer e transporte para todos. A maneira como as coisas funcionam hoje tira dinheiro de quem tem pouco para encher o bolso de quem já tem muito. No caso da tarifa de ônibus é exatamente assim que funciona. O trabalhador gasta uma parte considerável de seu salário para usar um serviço essencial e que rende altos lucros para as empresas que exploram o serviço. Os imensos lucros das empresas contrastam com o bolso do trabalhador, que esvazia a cada viagem. Alguns afirmam que as empresas não tem lucro, em evidente negação da realidade. Ora, as famílias que controlam as empresas aparecem na coluna social, exibem suas viagens, joias e jantares. De onde acham que sai o dinheiro?

3) SERVIÇO PÚBLICO FUNCIONA
É justamente pelo argumento acima que defendemos a municipalização do transporte público. O transporte é um direito, um serviço essencial, não é para dar lucro. Pessoas andam quilômetros a pé ou deixam de comer para pagar a passagem. Se vocês não conhecem alguém que passou por isso, muito prazer, Felipe Silveira. E conheço mais algumas dezenas de pessoas próximas que vivenciaram isso. Então, como o serviço público não dá lucro (em teoria), faz todo sentido que o transporte público seja operado por uma empresa pública.

Você vai dizer que o serviço público é uma droga, que não funciona, que a burocracia atrapalha, que há corrupção. E, bem, nada disso é mentira. Mas, assim como criamos e defendemos o SUS, que sofre de tudo isso também, temos que resolver os problemas que vem junto com o pacote. Para alguém de direita (aquilo que entendemos como direita, em suas mais variadas vertentes), o serviço é falho por ser público, faz parte do credo e da campanha de difamação. Mas a verdade é que o SUS salva milhões de vidas que só tiveram uma chance por causa do serviço público.

4) PROCESSO E DIÁLOGO
Eu defendo que a implantação da Tarifa Zero seja gradativa. Acredito que não seja possível, de uma hora pra outra, comprar centenas de ônibus, contratar e capacitar profissionais, preparar a oficina e o setor administrativo do órgão responsável etc. É preciso dialogar com a sociedade para decidir a forma de implantação. Sendo assim, começar a operar o serviço a partir de algumas linhas é uma possibilidade. No caso de um sistema integrado, como em Joinville (SC), elas teriam que ser separadas. De todo modo, é necessário o diálogo com a população para definir a melhor estratégia.

5) REDUZIR A CONTA É NECESSÁRIO
Reduzir os custos é necessário. Meu amigo de direita gosta de economia e, no meio do papo que motivou esse texto, alertou para algo importante. Diz ele que todo serviço público depende de um fator para funcionar: baixa demanda. Eu acho que ele está coberto de razão. Evidentemente a demanda do transporte coletivo é altíssima, e com a Tarifa Zero tenderia a aumentar. Muita gente deixa de usar o sistema porque não pode e até mesmo não quer pagar o preço. Porém, acredito que as soluções para os problemas são múltiplas e há maneiras de reduzir bastante a demanda. Escrevo sobre duas abaixo:

5.1) Como cicloativista, e ciclista desde a infância, acredito que uma cidade ciclável tem muito mais qualidade de vida. Por experiência própria e com base em centenas de histórias contadas na internet, digo que andar de bicicleta muda a vida para muito melhor. Melhora a saúde, a resistência, é barato, é prazeroso. Por isso, acredito que tornar a cidade mais ciclável pode reduzir muito a demanda do transporte coletivo. Isso aconteceu, por exemplo, em Copenhague, na Dinamarca. A cidade investiu na melhoria das condições para andar a pé, de bicicleta e de transporte coletivo, reduzindo o uso do carro. Dessa forma, cerca de 25% da população (o número pode estar desatualizado) usa, diariamente, a bicicleta para se locomover, outros 25% usam transporte coletivo, outros 25% andam a pé e o restante de carro. Isso não quer dizer que você não possa usar o carro num dia, o ônibus no outro e ir a pé quando quiser. Significa, apenas, que você vai escolher o modal que faz mais sentido para a sua necessidade.

5.2) A cidade precisa ser reorganizada. No século 20, as cidades se desenvolveram de modo desigual, promovendo mais e mais desigualdade, concentrando riqueza no centro e aumentando a pobreza nas periferias. Assim, o trabalho ficou muito longe de casa, impedindo que as pessoas façam suas viagens diárias a pé ou de bicicleta, transformando bairros em dormitórios. Por isso, é preciso reorganizar a cidade e trazer o emprego/estudo para perto de casa ou ir morar perto do emprego/estudo. Ninguém que more a dez minutos a pé do trabalho vai optar pelo ônibus (salvo exceções). Andar a pé é prazeroso e saudável. É algo que deve ser estimulado.

6) COMO PAGAR A CONTA?
Em certo sentido, administrar uma cidade ou uma empresa é a mesma coisa. A tarefa do administrador é organizar, fazer render mais com os recursos que existem. Por isso que candidatos do meio empresarial ganham eleições, vendendo a ideia de bons gestores. A coisa pública, porém, tem várias diferenças que não permitem tratar os dois tipos de administração da mesma maneira. Cidadãos não são clientes, certos setores não podem ser cortados, as regras são mais rígidas e o jogo é mais complexo. Assim, financiar o transporte coletivo é uma decisão política e recursos do município serão usados para executá-la.

São inúmeras as maneiras de aumentar a arrecadação e distribuí-la de forma mais justa, mas é preciso coragem política e efetiva participação popular para colocá-las em prática. Um exemplo disso é a tentativa do próprio Haddad de implantar o IPTU progressivo em São Paulo, que fracassou na hora de passar na Câmara de Vereadores. Nenhuma vitória política é resultado de canetaço. Tudo que os trabalhadores e trabalhadoras conquistaram foi na base do sacrifício, da pressão. A partir do momento que a pressão for maior do que a resistência daqueles que não querem ceder, qualquer pauta vai ser aprovada. Nossa tarefa é seguir na luta e mostrar que é possível. Por isso, listo abaixo algumas das formas de financiamento da Tarifa Zero.

6.1 IPTU progressivo
A implantação desta política é urgente, pois resolve inúmeros problemas de uma só vez. Ela é fundamental para reorganizar a cidade, combater a acumulação de capital, gerar emprego e diminuir custos para a população. Ela afeta diretamente aqueles que acumulam com especulação imobiliária, o que justifica a forte resistência deste setor. E quem lucra com especulação? Todos os ricos que adquirem imóveis e os usam como poupança. Ou vocês conhecem algum rico (rico mesmo) que não tenha imóveis? Contudo, a partir do momento que se aumenta a alíquota para os especuladores, isso resulta no aumento da arrecadação do município ao mesmo tempo que força a redução da especulação. Explico:

Vamos supor que um especulador seja dono de cem imóveis. Destes, 50 estão ocupados e outros 50 vazios, esperando que alguém pague o alto preço do aluguel que tanto sacrifica famílias e pequenos e médios empreendedores. Como o especulador vai ter que pagar mais, ele vai ter que tirar o dinheiro de algum lugar. Assim, ele pode vender alguns imóveis ou baixar a taxa para conseguir alugar alguns para novos clientes. Entra aí a lei da oferta e da procura, pois este movimento vai forçar o aumento da oferta de imóveis no mercado. Com o aluguel mais barato, mais pessoas podem morar perto do trabalho, mais negócios vão surgir, outros não vão fechar, vai haver mais emprego. Tudo começa a funcionar melhor, menos a acumulação de capital do especulador, que ainda assim não vai ser ruim. Com o aumento da arrecadação para a cidade, um percentual pode ser destinado ao financiamento do transporte coletivo. O aumento no IPTU não será repassado no aluguel por uma questão da lei da oferta e da procura. É ela que vai forçar a baixa dos valores cobrados atualmente.

6.2 CIDE
Essa é uma proposta defendida pelo próprio Fernando Haddad. O Cide é um imposto federal sobre o combustível que pouco retorna para o município. Existe uma PEC (179/2007), de autoria de Jilmar Tatto (PT/SP), que propõe justamente o uso do imposto no subsídio ao transporte coletivo.

6.3 Destinação de multas de trânsito, estacionamento rotativo e estacionamentos públicos
Diminuir a circulação de carros e a velocidade média do tráfego é um desafio para as cidades mais progressistas do mundo. Radares que geram multas por excesso de velocidade são eficientes para alcançar o objetivo da diminuição. As multas, que ninguém precisa tomar se não ultrapassar a velocidade permitida, podem reforçar o caixa destinado ao transporte público. O estacionamento rotativo também gera arrecadação e resolve o problema de vagas no centro. Ao contrário de alguns, defendo que o custo da hora no estacionamento rotativo não pese demais no bolso do cidadão.

6.4 Publicidade no transporte coletivo
No sistema capitalista, a publicidade é um lucrativo negócio. Ônibus são ótimos espaços de publicidade ambulante. Pode-se muito bem aproveitar o espaço para arrecadar fundos que serão destinados ao financiamento do sistema.

6.5 Pedágio Urbano
Outra medida a ser utilizada é o pedágio urbano, mas deve gerar mais polêmica. Por isso que essa demanda precisa ser de uma boa parte da sociedade, de modo que todos topem fazer sacrifícios para financiar o melhor para a coletividade. Se a ideia é diminuir a circulação de carros e fazer com que os mais ricos paguem uma parte da conta, então o pedágio é uma boa forma de somar à arrecadação e diminuir a circulação de carros.

6.6 Economia gerada em outros setores
Uma das melhores consequências da Tarifa Zero é a melhoria na saúde da população. Além de diminuir a poluição, as pessoas que optarem pela caminhada e pela pedalada vão fazer atividade física automaticamente. A consequência poderá ser vista na fila dos hospitais. Além disso, o número de acidentes de trânsito deve diminuir consideravelmente, pois teremos menos gente de carro e moto, menos velocidade, menos pressa e mais consciência. Logo, isso gera uma economia dos recursos destinados à saúde. Sobra mais para a cidade.

6.7 Cobrança de empresas
A população da cidade pode debater uma taxa a ser cobrada das empresas pelo número de funcionários que vão ao trabalho pelo sistema gratuito. É uma ideia que vai ter resistência empresarial, mas pagar o passe já faz parte dos benefícios que muitas empresas oferecem. Trata-se de chegar a um consenso social.

6.8 Percentual na conta de água ou luz
Se a sociedade decidir custear a tarifa, uma pequena taxa poderia ser incorporada às contas de luz ou de água. Um pequeno valor custeado por todos para um serviço que poderia ser usado por qualquer um a qualquer momento. Seria muito mais barato pagar um pequeno valor uma vez por mês do que três ou quatro passagens do jeito que é hoje. Valeria muito a pena. Tudo é uma questão de a sociedade querer fazer isso. Eu quero, e você?


OUTRA SOCIEDADE É POSSÍVEL

Defender a Tarifa Zero como uma política pública concreta, possível a curto e médio prazo, é defender um outro modelo de sociedade que apenas parece inalcançável. Sem dúvida que os contrários ao novo modelo o vendem como impossível, sonho, utopia. Mas as transformações ocorrem todos os dias, em todos os lugares, e dependem de corações e mentes trabalhando juntos. Um exemplo de política pública que também tem tudo a ver com o parto do novo mundo é a Renda Básica Incondicional, que vai promover uma redistribuição considerável de renda e acabar com a pobreza. Mais um exemplo é a redução da jornada de trabalho, urgente no combate ao desemprego em um mundo que cada vez reduz postos de trabalho ao mesmo tempo que cada vez mais suga o trabalhador, obrigando-o a dedicar a maior parte de sua vida e energia para as empresas. O modelo atual afeta diretamente a saúde e o bem-estar das pessoas, cada vez mais tristes e dependentes de remédios para aguentar o tranco que é viver.

Somos convencidos de que é inútil, mas imaginar, planejar e executar um novo mundo está ao nosso alcance. Neste texto falei de apenas uma coisa que vai mudar a vida de todo mundo para melhor e citei mais duas no último parágrafo. Sem utopias, sem ilusões, apenas criatividade e planejamento bastam.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

E ainda tem gente que não gosta de cotas...



POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

É risível o barulho que ainda se faz em torno do tema das cotas nas universidades públicas brasileiras. O chororô vem sempre da pequena burguesia, que esgrime sofismas para escamotear um único fato: os ricos querem manter os seus lugares nas universidades públicas, como tem acontecido em toda a história recente do País. Uma vaga para um negro ou um índio é uma vaga a menos para um pequeno-burguês (perdão pelo truísmo).

Os liberais adoram falar em mobilidade social e os moralistas não largam o argumento furado da meritocracia. Defendem a idéia peregrina de que todas as pessoas podem dar certo na vida. E que basta trabalhar muito e aproveitar as chances. Tudo isso, claro, independente da classe social, do ambiente em que se vive ou das oportunidades que se tem. É uma lógica (idiota) de classe.

Ora, os liberais não querem o Estado a se meter nos seus negócios. E, por extensão, também rejeitam intervenções no plano da educação. O conservadorismo tem explicação: a universidade pública fornece, sem custos, o capital intelectual que vai permitir, aos filhos da pequena burguesia, as condições para permanecer no topo da escala social. O ideal é não haver mobilidade.

Mas o mundo dos liberais e dos reaças (não são exatamente a mesma coisa) só é bom para os liberais e os reaças. A experiência ensina: hoje em dia é cada vez mais difícil um pobre ficar rico. E a educação representa uma rara possibilidade de ascensão social. Quem tem acesso à escola tem maiores chances de ascender na vida, mas nem isso é garantia nos dias de hoje.

Aliás, estudos realizados nos Estados Unidos, paraíso do liberalismo, revelam o que todos sabemos: há uma forte relação entre o rendimento dos pais e a qualificação dos filhos. Ou seja, pais ricos conseguem educar melhor os seus filhos. E, claro, o pimpolhos da pequena burguesia conseguem melhores lugares no mercado de trabalho.

Ficar por aí com o rame-rame da meritocracia é uma tergiversação antropológica que não resolve o essencial. A realidade mostra que não há igualdade de oportunidades, nem mãos invisíveis. Nesse caso, a mão visível do Estado tem que dar um empurrãozinho para impor alguma justiça. Enfim, nenhum humanista pode ser contra as cotas.


É a dança da chuva.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Udo Dohler: quem não sabe fazer... ensina


POR JORDI CASTAN

Há coisas na vida que não se recuperam: a palavra, depois de proferida; a ocasião, depois de perdida. É um antigo ditado que cai como uma luva sobre a atuação do prefeito Udo Dohler. As palavras que proferiu, a oportunidade que perdeu. A ocasião, como diz o adagio, foi perdida. Mas as palavras ele deixou em documentos encontrados na internet. 

Quem quiser conhecer mais sobre o pensamento do prefeito Udo Dohler pode visitar o link “ideias e pensamentos de Udo Dohler”. Lá ele expõe suas ideias sobre o trabalho, sua visão da gestão, além de reunir uma série de conselhos que se dispõe a compartilhar de forma generosa na internet. Para quem tiver interesse, recomendo uma visita.

No entanto, para poupar o seu tempo, selecionei alguns slides do site que poderiam ser úteis ao próximo prefeito de Joinville. É bom lembrar a diferença que existe entre “dizer” e “fazer”. Há dezenas de empresários mais ou menos bem sucedidos que oferecem receitas de bolo para quem quiser emular o seu modelo de gestão. Udo, num ato de suprema generosidade e desprendimento, compartilha a sua sabedoria. Porque é importante deixar o seu modelo de gestão ao alcance de todos. Obrigado, prefeito.


Não tenho palavras para agradecer um presente como este. Em tempo, por um instante fiquei com a impressão de que é um caso daqueles em que o autor diria: “façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço”. E deixo uma sugestão: seria boa ideia manter atualizado o site. Afinal, sabemos que uma coisa é o discurso de campanha, para iludir incautos (ops!, digo, eleitores) e outra é gerenciar uma cidade como Joinville.


Em tempo. Há diferenças abissais entre o administrador e o gestor. Enquanto o primeiro sabe o que deve ser feito, o segundo sabe como fazer. Saber o que deve ser feito implica conhecimento, planejamento e capacidade. Saber como fazer requer treinamento e trabalho. Deve ser por isso que Udo Dohler destaca tanto o valor do trabalho, o mérito que tem que acorda cedo, trabalha duro e suja as mãos trabalhando. Pena que não se vejam resultados.


Mas vejamos, então...





sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Boa Vista!


Nós queremos mais, nós podemos mais



















POR SALVADOR NETO


Há coisas em Joinville que nos surpreendem, e para pior. Como imaginar uma cidade acessível, moderna, sustentável, feliz e centro de excelência se ainda nos ufanamos de, agora, em pleno século 21, anunciarmos a instalação de abrigos de ônibus como se fossem a última moda no primeiro mundo? Sim, este anúncio foi feito pela Prefeitura de Joinville, gestão Udo Döhler, com muita pompa. Uma verdadeira piada de mau gosto, espalhada por veículos de comunicação. E fazem isso com a certeza de que vão engabelar os cidadãos que pagam impostos esperando algo de inovador em troca.

Por baixo ouvimos falar de novos abrigos de ônibus há duas décadas, para ser generoso com os gestores que sentaram na cadeira de Prefeito. Até hoje milhares de usuários do transporte coletivo são obrigados a ficar sob o sol escaldante, ou chuva torrencial, sem qualquer abrigo. E com o título de tarifa mais cara do Brasil. Os primeiros abrigos então foram aqueles que copiam os modelitos dos anos 1960/1970... Depois mostraram fotos de outros, modernos e reluzentes, mas que ficarão somente em áreas onde transitam “mais” pessoas.

Ou seja, na cidade que se diz a segunda melhor do Brasil (??) teremos, sim teremos, porque até agora é só mais uma promessa, novos (?) abrigos de ônibus para áreas de primeira classe e de segunda classe. É o que se entende com o anúncio de dois tipos: um para periferias, outro para o centro, e se saírem! É somente isso que a população da maior cidade de Santa Catarina merece? Um governo que dizia a novidade, de gestão exímia, moderno, anunciar abrigos de ônibus? Nós queremos mais, nós podemos mais! Não subestimem o desejo, a força e a vontade do povo de Joinville! Tenham mais respeito, apresentem o futuro, porque de passado estamos fartos!

Não bastasse o executivo municipal se mostrar atrasado, incipiente, iníquo, fraco, incompetente, temos também o modelo novo/velho do legislativo. Com raríssimas exceções – e muito raras mesmo! – são incapazes de fiscalizar os atos do Prefeito e sua gestão, ou por comodismo, por cargos, ou por medo, e mais que isso, propor leis que promovam o debate para uma cidade realmente moderna, acessível, inclusiva, sustentável, e assim feliz. Os vereadores repetem a receita do passado: denominações de ruas, homenagens a personalidades, empresas e entidades, moções de fazer rir, indicações para que fechem buracos das ruas, ignorados solenemente pelo executivo. Basta andar nas ruas para constatar isso. E o presidente da Casa, Rodrigo Fachini, joga para a torcida: economizou grana.

Seria verdade, ou seriam palavras ao vento? Claro que são palavras ao vento. Somente nas famosas catracas foram gastos mais de um milhão de reais! Viagens e diárias abusivas denunciadas à vontade. Vereadores que seriam promoters da Festa das Flores em Portugal! E viva Joinville? O povo de Joinville quer mais, pode mais e merece muito mais senhores Prefeito e vereadores! A cidade precisa de investimentos, e economia por economia não melhora a vida dos cidadãos, e em muitos casos, mostra a incapacidade de gastar naquilo que é essência e que mudaria a vida da cidade para melhor. Gastar bem e melhor é mais efetivo do que anunciar economia.

A maior cidade precisa ser também maior em líderes inovadores, tanto no executivo quanto no legislativo. No executivo, um Prefeito corajoso, inovador, que peite interesses e faça as obras que podem tirar Joinville do atraso em que se encontra. Quatro anos de atraso podem representar na verdade muitos anos mais de retrocesso até que se encontre o caminho do desenvolvimento. No legislativo, legisladores criativos, provocadores, propositores de debates que elevem o nível dos projetos e sonhos de uma cidade evoluída. Outubro vai chegar, e cabe a você eleitor observar o que foi feito, o que não foi feito, o que foi prometido e não entregue, e decidir melhor. Joinville grita: quer mais, pode mais.

É assim, nas teias do poder.