sábado, 3 de dezembro de 2016

Quando Joinville for...


POR FAHYA KURY CASSINS

Quando Joinville for uma cidade grande, os motoristas saberão que não pode parar no cruzamento, nem passar descaradamente no sinal vermelho. Até mesmo os motoristas de ônibus, responsáveis pela segurança de dezenas de vidas, respeitarão sinais, placas e limites de velocidade. Também saberão respeitar as vagas especiais de estacionamento. O que dizer das ciclovias? Serão ciclovias de verdade, não falsas ciclofaixas mal sinalizadas, sem pintura, que começam do nada e terminam em lugar algum, e que não garantem o mínimo de segurança aos ciclistas. Teremos, também, faixas elevadas para pedestres, na região central com as famosas “áreas calmas” e pela cidade toda em lugares de grande fluxo de pedestres.

Quando Joinville for uma cidade grande, não veremos indiferentes as notícias de jovens sendo assassinados todos os dias – principalmente nos bairros da periferia. Jovens assassinados nos sofás de suas casas, na frente das escolas. A Joinville do futuro, em pouco tempo, não terá mais jovens. Quando Joinville for uma cidade grande, não chamaremos de “parque” meras praças abandonadas com o verde a perder para o concreto. Aliás, teremos muitas ruas e praças arborizadas, com lindos canteiros floridos dignos de uma “Cidade das Flores” que poderá usar o título não só para divulgar uma festa.

Quando Joinville for uma cidade grande, teremos de volta o chafariz do Centro – nos preocuparemos até com a beleza. Teremos a JK florida de azáleas a colorir nosso longo inverno cinzento. Teremos calçadas bonitas e acessíveis a todos, pela cidade toda – e não pavers encardidos e cimento mal feito às vésperas do dia da eleição. Teremos de volta os ginásios, que tanto já fizeram pela História da cidade, em uso para atividades de lazer e esportes para todas as idades, desde os pequerruchos até os idosos.

Quando Joinville for uma cidade grande, não brigarão para colocar o nome daquele velho político falecido em escolas, avenidas, postes e viadutos. Ah! Quando Joinville realmente for uma cidade grande, não discutiremos mais sobre viadutos – se perdemos o bonde do desenvolvimento, se eles ainda se fazem necessários. Talvez a capa do jornal local nem se preocupe com o hospital que é seu maior anunciante. Talvez tenhamos a consciência de preservar o patrimônio arquitetônico e histórico, sem pensar só na nossa varanda no alto dos prédios da região central. Quem sabe tenhamos tantos poetas, escultores, professores e cientistas a nomear nosso entorno e saberemos que somos, também, um povo de qualidades. Um povo, quem sabe, crítico e não acomodado, nem submisso aos grandes empresários, que exigirá uma cidade boa e bonita.

Quando Joinville for uma cidade grande, os números e posições nos rankings serão irrelevantes. Seus mais de 5oo mil habitantes mal espalhados pelos seus 1.126.106 km² serão motivo de orgulho se forem todos bem atendidos pelos hospitais, se tiverem vagas nas escolas e acesso a de boas universidades públicas, se puderem desenvolver suas habilidades além da metal-mecânica. Será motivo de orgulho se for a segunda ou a quarta melhor cidade para empreender e os funcionários desses empreendimentos puderem usar ônibus limpos e confortáveis, tiverem acesso aos bens culturais e de lazer e não conviverem com o medo nas esquinas dos bairros.       

Quando Joinville for uma cidade grande, voltaremos os olhos para as belezas naturais que nos cercam, como o mar, os morros e os manguezais – sem exagerar, de novo, em “portas” de concreto e abusando de passarelas e decks para caminhadas e pedaladas que incentivem a vida ao ar livre. E, quem sabe, veremos o Rio Cachoeira reviver seus tempos de água cristalina. Porque nem toda cidade grande é obrigada, só por ser grande, a ter seus rios poluídos.

Fahya Kury Cassins é professora e escritora

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