segunda-feira, 31 de março de 2014

Este é um país que vai pra frente

POR ET BARTHES

Neste 31 de Março, não podíamos deixar de lembrar o infausto golpe militar. E nem esta musiquinha que a ditadura usou para "mobilizar" os brasileiros. 



Promiscuidade republicana

POR JORDI CASTAN


Difícil imaginar que algum dos nossos vereadores conheça o modelo republicano proposto por Montesquieu, baseado no equilíbrio entre os três poderes da república. Escreveu Montesquieu: "Não haverá liberdade se o poder de julgar não estiver separado do poder legislativo e do executivo. Não existe liberdade, pois se pode temer que o mesmo monarca ou o mesmo senado apenas estabeleçam leis tirânicas para executá-las tiranicamente".
Os nossos vereadores ou gazetearam essa aula ou não frequentaram a escola ou estão mais preocupados com os seus interesses particulares que com o bem publico. Numa atitude, diga-se, muito pouco republicana.
A promiscuidade entre executivo e legislativo em Joinville é tão escandalosa que não há a menor preocupação em dissimular. Jornais noticiam, divulgando nomes e cargos, quais e quem são os cargos comissionados, acomodados no executivo, que são indicados ou pertencentes à cota de cada vereador. Sem entrar em maiores detalhes, também vale a pena se informar sobre caminhões, escavadeiras e equipamentos locados, pela Prefeitura, e que pertencem a empresas - ou mantêm vínculos muito próximos - de vereadores e ex-vereadores.
É normal, nesse quadro, que o prefeito se ache no direito de dar um pito quando os vereadores não votam de acordo com os interesses do executivo. Há vereadores que mantêm uma relação de submissão ao prefeito, de tal subserviência que parecem ser comissionados e cujos cargos dependem da boa vontade do prefeito. A imagem dos chamados "vereadores da bancada", sendo lecionados pelo prefeito sobre como votar e o que votar, lembra a imagem da "Escolinha do Professor Raimundo".
Poucos vereadores têm conhecimento, capacidade, vontade ou a isenção necessária para fiscalizar o executivo. O risco de perder "bocas" e desempregar apaniguados faz que o legislativo municipal tenha se convertido num cartório de homologação dos atos do executivo. Isso faz que, sentindo a falta de fiscalização, o executivo fique cada dia mais arrogante e desavergonhado. Com ampla maioria e sem oposição, há uma tendência a prepotência e a descumprir prazos e procedimentos. A pressa tem se provado uma péssima conselheira.
A esse quadro há que acrescentar ainda a figura dos vereadores-secretários, que ocupam cargos no executivo, permitindo que a camara se encha de vereadores suplentes. Os suplentes são zumbis sem poder político, que não podem ter opinião diferente da do executivo, pois caso discordem poderão perder o seu mandato imediatamente. Assim secretários - vereadores podem ser exonerados a qualquer momento para que voltem para a Câmara e votem a favor de esse ou daquele projeto e ser renomeados, no dia seguinte, para que voltem a ocupar as suas secretarias. Numa situação que enfraquece o legislativo e causaria espanto em qualquer sociedade séria. Mas que aqui é tratada com naturalidade.
Estava certo aquele vereador que, desde a sua candidez, quando perguntado sobre se era a favor da "reforma administrativa" disse que ele era contrário à sua aprovação. Quando o repórter perguntou a razão, o vereador respondeu impávido: porque o prefeito ainda não falou comigo.
Faz bem a sociedade em buscar apoio no judiciário, o tripé republicando depende do equilíbrio entre os três poderes, pois para Montesquieu "só o poder freia o poder." O peculiar modelo republicano da Vila dos Manguezais, como no resto de Pindorama, é uma luxuriante orgia em que vale tudo pelo poder. O resultado é essa promíscua relação em que uns gozam e os de sempre pagam a conta.

sábado, 29 de março de 2014

sexta-feira, 28 de março de 2014

Abuso de poder na UFSC mostra continuidades da ditadura

POR FELIPE SILVEIRA

Nos meus últimos textos defendi a criação de atividades e espaços da memória que refletissem sobre a ditadura civil-militar (1964-1985) – e consequentemente sobre a história do Brasil e do mundo, já que este é um episódio marcante internacionalmente. Leia aqui. Mais do que isso, defendi que seja pensada e construída uma educação emancipatória cujo sentido seja não repetir a barbárie de 64. Leia aqui. E não repetir a barbárie também é enfrentá-la nas suas manifestações do dia-a-dia. Lutar para não repetir a barbárie da ditadura também é lutar contra as suas continuidades, como a que aconteceu na UFSC nesta semana.

O que a polícia fez foi um absurdo, e há inúmeras coisas a se discutir a respeito disso. Não vou abordar todas aqui, mas chamo a atenção para duas: a motivação da polícia e a reação da mesma diante da reação dos estudantes e professores.

Quanto à primeira, diz o delegado que não vai deixar que transformem a universidade em uma “república de maconheiros”. Olha aí a continuidade da ditadura. Temos o inimigo, a maconha e os maconheiros, responsáveis pelos males do mundo. E não importa se o mundo que raciocina contraria essa tese. Para uma boa parte da polícia, maconheiros são os grandes financiadores do tráfico e devem ir em cana, de preferência tomando umas porradas antes. Se for comunista, antes, durante e depois. Hoje, em uma discussão, um policial militar disse: “Comunista bom é comunista morto.”

Outra continuidade foi a reação das forças repressoras diante da reação das forças populares. Por causa de alguns cigarros de maconha (e não estou defendendo que a polícia simplesmente ignore o fato) armou-se uma guerra. Não se quis dialogar ou negociar, como poderá ser visto no vídeo e lido na entrevista linkada abaixo. E não se quis porque a ideia do agente policial era demonstrar poder. Um poder que entre 1964 e 1985 não conhecia limites. E um poder do qual muitos tem saudade ou não acham que perderam.

Alguns apontam um exagero das duas partes – polícia e universitários –, mas esqueceram que a polícia queria levar estudantes em carros não identificados. E isso me parece um bom motivo para uma reação popular, não? Não foi o único.

Neste vídeo pode ser vista a tentativa do professor Paulo Pinheiro Machado de dialogar com o delegado Cassiano:


E este é o mesmo professor tendo a resposta da polícia, ao pedir mais dois minutos para tentar dialogar:

Foto de Marco Santiago, do jornal Notícias do Dia, de Florianópolis

E aqui tem uma entrevista com o professor ao Diário Catarinense. Segue um trecho sobre como começou o confronto: "Ficamos por duas horas negociando com o delegado Cassiano da Polícia Federal. Ele foi irredutível. Quando iríamos conseguir a dispersão mútua para evitar o confronto ele decidiu levar os estudantes presos. O comandante Araújo da Polícia Militar estava cooperando conosco, mas o delegado se mostrou intransigente. Propomos que o Boletim de Ocorrência fosse feito no local ou então que um procurador e um professor acompanhasse os estudantes, mas ele disse que não poderia colocar eles no carro da polícia."


***

A truculência da polícia não é novidade. Não era nem na ditadura. A polícia é violenta desde que foi criada, mas durante o regime militar se extrapolaram todos os limites. A violência que vemos hoje –na universidade, nas comunidades periféricas, nas favelas e nas manifestações populares – é uma continuidade daquele período sombrio. Para quem não sabe como foi esse período, vale dar uma olhada nas declarações do ex-agente do CIE, Paulo Malhães, dadas à Comissão Nacional da Verdade há dois dias, nas quais admitiu a prática de tortura, mortes, ocultações de cadáveres e mutilações de corpos, cujo objetivo era impossibilitar a identificação das vítimas.

A truculência policial é somente um aspecto. A herança da ditadura é muito ampla. Continua-se calando trabalhadores e sindicatos pelas mais diversas formas, continua-se fazendo tudo em nome do lucro, continua-se destruindo o meio-ambiente e escravizando pessoas em nome do capital, continua-se comprando votos... Sem contar que destruiu uma geração de intelectuais e artistas que estava em ebulição e trabalhava pela construção de um Brasil melhor.

Que essa data simbólica seja marcada pela decisão de descontinuar esse tipo de coisa. E que seja um recomeço.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Saudades da ditadura?

POR ET BARTHES
Cenas de tortura no filme "Pra Frente Brasil", de Roberto Farias, realizado em 1982. É ficção, mas...


quarta-feira, 26 de março de 2014

A revistona e a servidão voluntária

Étienne de la Boétie

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Um dia destes citei, algures por aí, o livro “Discurso da Servidão Voluntária”, de Étienne de la Boétie. E hoje vou retomar o tema, mas numa variação da abordagem. Na sua análise, desenvolvida no século 16, o filósofo francês mostrava a sua inquietação frente a um fato: pessoas que, de forma espontânea, estão dispostas a abrir mão da própria liberdade.

La Boétie fala de uma realidade concreta. Ou seja, de pessoas que abrem mão do livre arbítrio em favor de um tirano. É a partir desse ponto que me permito fazer uma extrapolação, saltando para o plano abstrato das ideias: pessoas que abrem mão da liberdade de pensar pela própria cabeça e se deixam tiranizar pela repetição uma arenga ideológica qualquer (ideologia no sentido atribuído por Marx – de deformação).

NANISMO INTELECTUAL - A servidão voluntária é para gente que, por razões de classe ou por simples abulia política, se recusa ao motu proprio. Gente que prefere repetir o tatibitate de nanicos intelectuais (tipo Reinaldo Azevedo, Rodrigo Constantino ou o astrólogo Olavo de Carvalho) ou de projetos editoriais que sequer se preocupam em disfarçar os seus objetivos políticos.

Na semana passada pude acompanhar a repercussão, nas redes sociais, de matérias de dois meios de comunicação, a Veja e o Estadão, publicados quase em simultâneo, sobre a prisão do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto da Costa, na Operação Lava Jato. E antes de continuar é importante lembrar que nem o jornal e nem a revistona têm sido meigos com o governo de Dilma Rousseff.

UM FATO, DUAS LEITURAS - O título do jornal atém-se ao fatos (“PF prende ex-diretor da Petrobrás citado na Operação Lava Jato”) e apenas depois acrescenta que o homem chefiou uma das principais diretorias da Petrobras. Já o título da revistona procura a jugular de Dilma Rousseff (“Preso, ex-diretor da Petrobras é ‘caixa-preta’ da estatal”). E vai fundo nessa linha ao dizer que o homem fez uma doação para o PT nas eleições de 2010.

A matéria do Estadão mantém a sobriedade. O jornal dedica a maior parte do texto a falar da operação policial, mas sem esquecer de falar na Petrobras na parte final do texto. Para a revistona, o fato do dia parece não interessar. É apenas o argumento para pôr o tema Pasadena novamente na agenda. E dedica apenas um simples parágrafo no final do texto para falar da operação policial.

LEITOR QUE NÃO LÊ - É interessante como um mesmo fato pode gerar alinhamentos de textos tão díspares. Mas isso interessa aos leitores da revistona? Não. Porque eles se alimentam de restos de informação. E fazem associações simplórias: “homem preso – Petrobras – Governo Federal – Dilma Rousseff – PT – todos culpados”. Nada mais interessa.

E havia ainda a cereja no topo do bolo. A Polícia Federal apreendeu 700 mil reais e 200 mil dólares em notas. Não demorou para muitos fazerem a ligação ao PT, claro. Nem se preocuparam em saber se o homem estava a ser preso pela associação a um doleiro. É a lógica dos intelectualmente servis: nem tentaram imaginar a hipótese de doleiros terem muitos dólares e reais.

De volta ao princípio: no Brasil destes dias, o discurso da servidão voluntária é o discurso dos que se limitam a repetir, adestradamente, um discurso para lá de manjado.

Em tempo: não adianta tentar discutir Pasadena comigo. 1. Porque não é o tema deste texto. 2. Porque não entendo nadinha dessa coisa de put option (e nem a maioria de vocês).


Os links das matérias, que deveriam ser estudadas nos cursos de jornalismo:

terça-feira, 25 de março de 2014

Na ALESC, Nilson Gonçalves faltou a 37% das sessões; Darci, Sandro e Clarikennedy mais de 20%

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Os deputados estaduais de Joinville e região pouco aparecem na mídia para apresentarem seus trabalhos na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (ALESC), e isto é justificado se contarmos as presenças destes nas sessões ordinárias, disponibilizadas pelo portal da transparência (controlado pelo poder legislativo de SC). No levantamento feito em todas as sessões desde agosto de 2013 até a presente data, contabilizamos 81 sessões, e os deputados que representam a cidade deixam a desejar no quesito frequência.

Antes de mostrar os resultados, gostaria de ressaltar que o trabalho de um deputado estadual vai além da sessão ordinária, momento onde acontecem as votações e outras importantes deliberações. Representações em funerais, acompanhamento de exames médicos da filha, e viagens particulares entram como importantes motivos para as faltas justificadas. Somado a estas, não podemos esquecer das "agendas previamente estabelecidas", campeãs entre os motivos apresentados pelos deputados da cidade. 

A sessão ordinária é o momento mais importante (apesar de não ser o único), pois ali acontecem as votações finais, onde a população pode saber de forma direta qual o posicionamento do seu representante. Também mostra como o deputado lida com seu mandato; se segue linhas partidárias ou realmente representa os interesses do povo. Ou seja, a sessão é o momento de maior exposição do processo legislativo.

Vale ressaltar que este levantamento não leva em conta viagens em missões internacionais ou demais viagens representativas. É um puro levantamento quantitativo. E, desde já, os deputados tem canal aberto no Chuva Ácida para apresentarem possíveis respostas ou contradições aos fatos aqui apresentados.

O campeão de ausências desde agosto até março é o deputado Nilson Gonçalves (PSDB), com faltas em 37,07% das sessões. Foram 30 faltas em 81 reuniões. Este número representa quase três meses inteiros de sessões. Se de agosto a março tivemos sete meses de sessões, Nilson teve uma baixíssima participação em termos de temporalidade. 

O segundo lugar fica para Sandro Silva (PPS), apesar de contabilizarmos apenas as sessões de 2014 (Sandro não participou regularmente de sessões no segundo semestre de 2013). Sua ausência foi contabilizada em 23,8% das sessões de 2014. 

Em terceiro está Clarikennedy Nunes (PSD), que faltou à 23,45% das sessões realizadas entre agosto e março. "Clari" foi o que mais faltou devido a viagens e representações oficiais para a Bolívia, o Uruguai e a cidade de São Paulo. Se isto não for levado em conta, ele é o deputado de Joinville mais presente nas sessões.

Em último (mas não muito distante dos demais) está Darci de Matos (PSD), faltante em 21,21% das sessões. Darci, entretanto, esteve ausente entre agosto e setembro, dando lugar a um suplente. Esta porcentagem de faltas não contempla o período em que seu suplente assumiu.

É inadmissível que os deputados da região faltem tanto aos momentos obrigatórios, como uma sessão. Independente do motivo, seus salários não são afetados por curtas faltas. Não é compreensível, ainda, que deputados agendem reuniões ou outras demandas justo no dia e horário de sessões, as quais possuem agenda amplamente divulgada (e com muita antecedência). O trabalhador, eleitor, e que diariamente luta para se sustentar não tem todas estas mordomias. Se possui falta injustificada, tem desconto no salário. Se falta frequentemente, é demitido.

O deputado estadual não. E ainda tem gordas diárias para utilizar quando está fora de Florianópolis em dias de sessão. Uma bonificação pelo desalinho.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Inaugurar para sair na foto ou interditar e pagar o preço?

POR JORDI CASTAN

Ou entra na política para mudá-la ou para que a política o mude. O prefeito Udo Dohler ameaçou mudar a política local. O seu discurso de campanha propunha outra forma de fazer política, trazer para a desacreditada administração municipal uma nova cultura de gestão, que incorporasse conceitos de eficiência, eficácia e racionalidade econômica. Ou seja, conceitos que parecem ausentes da gestão pública joinvilense há décadas. Mas até agora o prefeito não tem conseguido.

Quanto mais seu governo avança no tempo, mais a política muda o prefeito. E menos a velha forma de fazer política parece mudar. Quando o prefeito Carlito Merss inaugurou um sinaleiro na sua gestão houve críticas pertinentes. Mas agora, quando nesta administração se inaugura nada, há um silêncio cúmplice. Quem acreditou que o Parque Caiera, no Bairro Adhemar Garcia, foi reformado e reinaugurado teve uma surpresa ao encontrar que o parque continua interditado e oferece risco para os visitantes.

Quando o trabalho da assessoria de imprensa é melhor que o dos outros setores da prefeitura o resultado é esse mesmo: se vende uma imagem que não corresponde com a realidade. Já foi assim com a inauguração do binário da Vilanova, inaugurado incompleto e que apresentou falhas menos de dois dias depois de inaugurado. Também a ponte sobre o rio Águas Vermelhas é um exemplo do conceito de qualidade das obras públicas em Joinville.

Voltando ao Parque Caiera. De acordo com a assessoria de imprensa da prefeitura, o que foi realmente aberto no último dia 8, com a presença do prefeito Udo Döhler, foi a academia de ginástica e quiosques, logo na entrada do parque, que fica no final da rua Valdemiro Rosa, bairro Adhemar Garcia. O local estava fechado para visitação desde junho do ano passado. O problema é que nesta área do parque, com exceção do deck, os demais equipamentos estão interditados em razão do péssimo estado de conservação em que se encontram, oferecendo risco de acidentes.

Quem tentar subir no mirante, por exemplo, pode pisar numa madeira podre e despencar para o chão. Por isso, a prefeitura achou por bem proibir a entrada das pessoas e veículos, fixando uma cerca no meio do trajeto que dá acesso ao local, com um aviso de interdição. Como a cerca não oferece segurança e não há vigilância suficiente, os visitantes não respeitam e avançam sobre as áreas interditadas. De quem é a responsabilidade sobre a segurança do parque? Vamos esperar um acidente? Quem autorizou o funcionamento de um parque nestas condições?

Numa situação como esta faz sentido inaugurar? O prefeito escolheu sair na foto. Difícil escolha. No caso do Zoobotânico a administração municipal optou por mantê-lo fechado durante anos a fio enquanto as obras se alastravam a velocidade de cágado. Ou melhor, ao ritmo normal das obras pública em Joinville. No caso do Parque Caiera não há previsão de que a situação mude, não há prazo para a conclusão das obras, não há orçamento para as reformas. Sobre a péssima qualidade das obras públicas, nenhuma palavra e tampouco nenhuma mudança. A Fundema informa que as obras serão feitas “na medida do possível” e ninguém fica muito preocupado com uma resposta como essa. Na verdade o joinvilense tem se acostumado a não esperar nada do poder público e acaba reagindo bovinamente a tanta incompetência.

O Parque Caiera, como todos os parques de Joinville, apresenta um estado de conservação vergonhoso e oferece risco aos visitantes. Há necessidade constante de custosas obras de remodelação e recuperação, o que faz dos parques um poço sem fundo de recursos públicos. O que se vê em Joinville é um circulo vicioso de parques mal projetados, caros, pessimamente executados e sem nenhuma manutenção, pelo que precisam ser interditados com frequência durante os largos períodos necessários para as reformas. E, claro, sempre à custa de quantidades ingentes de recursos públicos que deveriam ser destinados a novos parques ou a melhoria dos existentes. O pior é que está consolidada a cultura que é assim e que isso não vai mudar.

Não tem que ser assim, como mostram três exemplos de parques urbanos no Brasil, que recebem forte visitação e se mantêm em bom estado apesar de terem siso projetados e construídos há muito tempo. Cumprem a sua função e não precisam ser interditados por longos períodos. No Rio de Janeiro, o Parque do Aterro do Flamengo (1961), em São Paulo o Parque do Ibirapuera (1954) e em Curitiba o Barigui,(1972). Todos eles com áreas próximas a 1 milhão e meio de metros quadrados, equivalentes ao Parque Caiera.



É preciso não se acostumar com a mediocridade. Há parques bem projetados, sem desperdício de recursos públicos e que são motivo de orgulho para os seus usuários. Parques são espaços de lazer, de valor social, ambiental e paisagístico, reservas de verde urbano que contribuem a qualidade de vida das cidades. Mas por aqui ainda são uma ficção.

"O que há no governo é mais que má gerência. É uma fé infinita na empulhação, ofendendo a inteligência alheia."
Elio Gaspari

sexta-feira, 21 de março de 2014

Um filme irretocável

POR ET BARTHES

O que uma mãe pode fazer quando sabe que está esperando um filho com Síndrome de Down? O filme explica.


Educação após 64

O jornalista Vladimir Herzog, o Vlado,
"encontrado morto em sua cela". Uma das
fotos mais chocantes da história do Brasil
POR FELIPE SILVEIRA

Estamos a alguns dias do aniversário de 50 anos do golpe civil-militar que colocou o Brasil em uma violenta ditadura de 21 anos. Ainda não sabemos nada sobre ela. Individualmente até conhecemos algumas coisas, lemos alguma coisa aqui, outra ali, um filme acolá. Mas é pouco. Enquanto Brasil, nada.

Cheguei a essa conclusão por causa do aniversário. Muito material bom está sendo produzido por causa da data emblemática. Mas não somente. É também uma resposta a esse reaparecimento de um fascismo escancarado, como apresentadoras de TV malucas, gatos pingados pedindo intervenção militar, polícia ameaçando manifestante e matando donas-de-casa. Enfim, todos os dias tem muita coisa boa para ler acerca daquele período. Material novo e antigo. Inclusive, uma entrevista indicada por um anônimo no texto da semana passada foi uma das leituras dessa semana. Há muita coisa mesmo. E não sabemos da missa a metade.

Na semana passada, neste espaço, defendi a criação de uma Comissão Municipal da Verdade, ideia que surgiu na audiência pública de comemoração dos 35 anos do Centro dos Direitos Humanos Maria da Graça Bráz (CDH) e que contou com a presença do coordenador da Comissão Estadual da Verdade. Uma comissão municipal faria este trabalho de resgate da memória acerca da ditadura, contando uma história que foi ocultada por aqueles que se aproveitaram do governo militar. Também foi defendida a criação de espaços voltados à memória, e eu citei como exemplo o Memorial da Resistência, em São Paulo. Insisto: todos devem conhecer.

Essas ideias – da criação da comissão e de um espaço similar ao memorial – vão ao encontro de outra provocação sobre o tema. Em outro evento sobre o tema, questionei o professor Wilson de Oliveira Neto, autor do livro “O Exército e a Cidade” (juntamente com Sandra Guedes e Marília Gervasi Olska), sobre o que ele imagina como solução para este cenário tão frágil que é a nossa sociedade, ao que ele comentou o texto “Educação após Auschwitz”, de Theodor Adorno, no qual o filósofo alemão sustenta a ideia de que é preciso desenvolver uma educação que impeça o retorno à barbárie. A referência à barbárie é  Auschwitz, o maior campo de concentração e extermínio da Alemanha Nazista.

Para o professor, nós brasileiros temos que desenvolver uma “educação após 64”, a nossa maior expressão da barbárie. Essa ideia me tocou profundamente e por isso eu a reproduzo aqui. Talvez ela seja o ponto de partida para um mundo mais justo e livre, no qual pessoas não sejam amarradas a postes e arrastadas por viaturas.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Comentários dispensáveis


POR FERNANDA M. POMPERMAIER

Esse blog aceita comentários anônimos
Infelizmente, meu voto foi vencido, por mim não aceitaríamos. 
Mas somos um coletivo democrático, vale a decisão da maioria e nessa, os anônimos passaram.

Para compensar essa tortura, ainda bem, existe moderação.
Não temos nenhuma obrigação de publicar todos os comentários que recebemos. 
São publicados os que passam pelo filtro.

E nesse filtro existem alguns princípios básicos que atingem todos os blogueiros, mas também existe uma parcela de julgamento pessoal. Sendo assim, decidimos que cada blogueiro libera os comentários dos seus textos. Nessa questão, como já expressei aos colegas inbox, os considero flexíveis e tolerantes demais. Não tenho a menor paciência/saco/estômago para ler as ofensas ou ignorâncias que comentam nos textos deles, e infelizmente às vezes nos meus.

Difícil compreender o impulso que leva uma pessoa a se expressar com tanta ira quando nos propomos a discutir temas que nos afetam no dia a dia. Usamos para escrever um tempo que retiramos das nossas famílias, do nosso tempo livre, sem nenhum retorno, apenas para conversar, trocar ideias, tentar pensar a cidade, o país ou até o mundo em que vivemos. É uma oportunidade de diálogo, de ver as mesmas coisas sob outros ângulos, de dividir perspectivas. Existe um ser humano desse lado, que merece o mesmo respeito que o leitor.

Não é uma questão de concordar ou discordar. Eu adoro comentários que questionam o ponto de vista, que fazem repensar, que acrescentam informações ou que também dividem experiências de vida. A esses sou extremamente grata, porque compartilham um pedaço de si, me fazem entender que tem gente aberta, receptiva e disposta do outro lado, que também quer conversar. A esses meu caloroso acolhimento. E não se preocupem, pelo menos nos meus textos, poderemos conversar sem comentários ofensivos no meio porque esses não irão passar.

Mas se você é um hater (desocupado que destila ódio pela internet) e tem a intenção de expressar sua raivinha nos textos que eu escrevo, não perca o seu tempo. Não vale gastar as pontinhas dos dedos porque eu deleto sem dó nem piedade. Ou entra para o debate com argumentos e informações de verdade ou vai abrir um blog para você poder escrever o que pensa com a liberdade que deseja.

terça-feira, 18 de março de 2014

Arquivos.


O samba do reaça doido


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Você pode não gostar da esquerda. Pode não gostar do comunismo. Pode não gostar do socialismo. Pode não gostar da social-democracia. Pode não gostar da própria democracia. Pode não gostar do grito do Tarzan. Mas só uma pessoa com mingau no lugar de cérebro é capaz de cair nessa lorota do golpe comunista. É coisa de gente com parafusos a menos.
Mas o pior de tudo nem é essa credulidade tosca. O verdadeiro delírio é achar que uma ditadura militar pode ser a solução para alguma coisa, em especial para um problema que nem existe. Só os esquizofrênicos perseguem inimigos imaginários. E, dizem os manuais, a esquizofrenia faz ter alucinações, depressões ou discursos paranóicos.
Há quem se dedique a estudar a esquizofrenia social. O fenômeno teria origem nas camadas mais abastadas e o poder de espalhar a doideira por todo o tecido social. Antes esse contágio ficava num âmbito restrito, mas o surgimento das redes sociais facilitou a disseminação do discurso esquizofrênico. Quem lê os comentários aqui no blog, por exemplo, sabe do que estou a falar.
Um dos problemas da esquizofrenia social é que subjaz um instinto de violência e um desejo de autoritarismo. Só isso pode explicar que ainda haja pessoas capazes de defender uma ditadura. Até podia gastar o meu latim e tentar analisar por um viés mais filosófico, tipo a relação “mestre-escravo” de Nietzsche, mas os esquizofrênicos só ouvem o que querem. Então, vai no popular.
A letra do samba do reaça doido tem uma métrica manjada. O cara anda deprimido porque não gosta de Dilma, de Lula e nem do PT. Mas como não consegue apear o partido do poder através do voto, então apela para a ideia do golpe militar. Se é preciso estropiar o país para tirar essa gente do governo, então dane-se o país. O preço é acabar com a democracia? Dane-se a democracia.
A esquizofrenia social também faz delirar. E os tipos começam a ver comunistas por todos os lados. Aliás, o truque de culpar os golpistas comunistas (mesmo quando eles não existam) é recorrente. Qualquer pessoa que tenha passado mais de cinco minutos nos bancos escolares sabe, por exemplo, que Hitler usou esse artifício para chegar ao poder e para justificar a guerra. É só para gente insana.
Em resumo. Não é de uma intervenção militar que o país precisa. O que precisamos é de um divã para tratar esses esquizofrênicos sociais.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Direita,volver!


E as bicicletas?

POR JORDI CASTAN


Alguém lembra a viagem a Europa que o prefeito Carlito Merss para conhecer o sistema de aluguel de bicicletas em várias cidades, especialmente em Barcelona? E das bicicletas que o Banco Itaú em parceria com o Instituto Festival de Dança disponibilizou durante os dias do festival em Joinville? Continuando com o exercício de memória, alguém se lembra da licitação que o IPPUJ estava preparando para que Joinville tivesse um serviço de aluguel de bicicletas? Deve haver forças poderosas a impedir que Joinville disponha de um serviço de aluguel de bicicletas moderno e funcional.

Olhando de um certa distância, a história das bicicletas em Joinville lembra a conhecida história do governo administrando o deserto do Saara: se o fizesse, em pouco tempo começaria a faltar areia. Só para lembrar o exemplo do Festival de Dança, o Banco Itaú implantou o serviço de forma gratuita e o fez usando a experiência e o conhecimento adquirido que o banco já tem. É bom frisar que o serviço era gratuito e ainda acrescentar que o banco e a empresa que operava o serviço manifestaram interesse em manter o serviço em Joinville de forma gratuita.

Alguém parece ter achado que isso seria fácil demais e decidiu que seria necessário intervir e organizar melhor as coisas. Propor um sistema de transporte por bicicletas integrando terminais urbanos e converter a bicicleta num modal de transporte. Com trajetos definidos, contratando uma empresa especializada em projetar este tipo de trajetos. Nada mais adequado que uma licitação e resolvido. O resultado é que os anões começaram a crescer e alguns já estão com tamanho de jogadores de basquete, a mulher barbuda ficou careca e o leão do circo ficou banguela. Para complicar as coisas um pouco mais, os palhaços, que são sempre os mesmos, deixaram de fazer rir e dão pena e o mágico já não tem mais coelhos para tirar da cartola.

E as bicicletas? Bom... das bicicletas não se voltou a falar e já se passaram mais de dois anos e meio desde a viagem à Europa. Em 2012, o presidente do IPPUJ informou que o edital seria publicado ainda naquele ano e de momento nem sinal.  O curioso é que as mesmas bicicletas que seriam gratuitas se operadas pelo banco que já implantou o serviço de forma experimental, na proposta do IPPUJ terão um custo para o usuário. O que terão as bicicletas que tanto interesse motivam nos técnicos do IPPUJ?  Tento imaginar quantas empresas terão interesse em retirar o edital, se algum dia o IPPUJ chegar a concluí-lo?




sexta-feira, 14 de março de 2014

Ditadura nunca mais, Comissão Municipal da Verdade já!

Dona Lucia Schatzmann
Foto cedida por Jéssica Michels
POR FELIPE SILVEIRA

Na terça-feira (11), o Centro de Direitos Humanos Maria da Graça Bráz (CDH), de Joinville, completou 35 anos. Em comemoração, realizou uma audiência pública sobre a ditadura civil-militar, com participação do coordenador da Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright (CEV), Naldi Otávio Teixeira. O nome da comissão é uma homenagem ao deputado catarinense cassado pela ditadura e exilado que retornou ao Brasil clandestinamente e é um dos desaparecidos políticos do período.

A noite foi emocionante. O depoimento da dona Lucia Schatzmann, companheira do seu Edgar  Schatzmann, um dos ex-presos políticos joinvilenses, mexeu com todos no recinto, que aplaudiram de pé ao final, quando ela contou com orgulho que não se arrepende de nada porque estava ajudando a construir um país e um mundo melhor. Tão emocionante quanto foi a fala da senhora de 69 anos que viveu aquela experiência terrível foi a de Luis Carlos Fagundes Lemos, filho de outro preso político, já falecido. Ele contou como foi terrível para a família passar pela prisão do pai, que, levado a Florianópolis, ficou incomunicável por muitos dias. Luis, no entanto, não contou os horrores da tortura que soube pelo pai. Por causa de uma criança no recinto, achou melhor não revelar as barbaridades.

Os depoimentos foram muito tristes. Os horrores da ditadura foram muito tristes. Conhecê-los é chocante, doloroso e triste.

No entanto, eu saí de lá feliz. Talvez por otimismo, interpretei que houve uma sinalização para a criação de uma Comissão Municipal da Verdade. E isso é muito, mas muito mesmo, importante. A comissão municipal, e poderia ser até mesmo regional, faria um importante resgate dessa história apagada, escamoteada a disfarçada que é a história da ditadura em Joinville.

E não conhecer a história, já que ela é apagada, é o que permite que tenha gente que goste da ideia de ditadura, que tenha saudade daquele tempo e todo esse lixo que vemos por aí. Aliás, sempre vai existir gente assim, por mau caratismo. Hoje, a maior parte é por simples desconhecimento. Por isso não podemos esquecer. Por isso temos que trazer a verdade à tona. E o primeiro passo para isso é criar e fortalecer a comissão municipal.

Tão importante quanto é avançar e criar espaços de resgate da memória. Um exemplo disso é o Memorial da Resistência, em São Paulo, criado na antiga sede de uma das polícias políticas do regime. Lá você pode conhecer as celas que abrigaram presos políticos e um trabalho fantástico de resgate da memória e reflexão sobre as violências dos períodos ditatoriais. Foi uma das experiências mais fortes da minha vida.

A sugestão da criação do espaço foi levantada pela comunidade e ouvida por três vereadores presentes. Acredito que haja uma possibilidade real de concretização da ideia, mas para isso ocorrer é necessário envolvimento da comunidade. Esse texto tem o objetivo de espalhar a ideia. Aos interessados, estou à disposição para colaborar e levar adiante o projeto.

Para conhecer mais sobre a história do casal Lúcia e Edgar Schtzmann e sobre a ditadura em Joinville, recomendo o documentário Ditadura Reservada, de Fabrício Porto: